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Podres poderes
Congresso, Presidência e ministérios lideram percepção de corrupção entre instituições brasileiras; atos relacionados ao poder público são sinônimo de irregularidade, mostra pesquisa
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Chegou a fatura para o
Congresso por conta
da avalanche de imposturas registradas
neste ano no Poder
Legislativo. Para 92% dos brasileiros, há casos de corrupção
envolvendo deputados, senadores e partidos políticos. Em
seguida, vêm a Presidência da
República e os ministérios
(88%), os governos estaduais
(87%) e as Assembleias Legislativas e seus deputados estaduais (86%).
Essa percepção negativa
transborda para as outras principais instituições do país. Nenhuma se salva, segundo a pesquisa Datafolha. Todas pontuam acima de 50% quando a
pergunta é sobre estarem envolvidas com corrupção.
A política local também tem
imagem ruim. Prefeituras e Câmaras Municipais e a Polícia
Militar dos Estados são vistas
por 81% dos brasileiros como
instituições nas quais existe
corrupção. A Polícia Civil fica
empatada na margem de erro
da pesquisa, pontuando 79%.
Clubes de futebol, em geral
apontados como antros de má
administração e ilegalidades,
também não são perdoados pelos brasileiros. Para 77% da população, os times têm alguma
ligação com casos de corrupção. Um pouco abaixo estão a
Polícia Federal (74%), o Poder
Judiciário (juízes) e promotores (73%) e a imprensa (61%).
Sinônimo de corrupção
Quando os entrevistados são
indagados sobre o que é corrupção, 43% apontam atos relacionados ao setor público e à
política.
Só muito abaixo, com 21%, os
brasileiros dizem que falta de
ética é uma forma de definir a
ação de um corrupto. Para 19%,
a corrupção ocorre quando há
roubo de dinheiro ou bens.
O diretor-geral do Datafolha,
Mauro Paulino, enxerga dois
fatores que levam a esse resultado. Primeiro, "a generalização de que todo político é ladrão". Segundo, uma outra desconfiança antiga do brasileiro,
"que acha que quase todas as
instituições têm algum tipo de
corrupção".
A onda de escândalos neste
ano no Congresso apenas retroalimenta a imagem que já é
ruim. Mas não é um fator determinante para o atual desgaste de quase tudo o que está ligado ao poder público.
"É curioso que a avaliação do
Congresso, realizada pelo Datafolha há muitos anos, sempre
tenha sido negativa. Não importa se há algum grande escândalo ou não", diz Mauro
Paulino.
Outro aspecto a ser considerado é que o brasileiro usa olhares distintos ao avaliar os políticos. Por exemplo, para 88%
dos brasileiros há corrupção na
Presidência da República. Mas,
ao mesmo tempo, 69% aprovam o trabalho realizado pelo
governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Essa contradição, diz Mauro
Paulino, pode ser atribuída ao
desempenho positivo da economia, aos programas sociais
implantados pela administração petista e "ao inigualável poder de comunicação de Lula".
Não se pode dizer que apenas
os simpatizantes do PT ou de
partidos lulistas garantem a
boa imagem do governo. Na estratificação dos dados, não se
nota grandes alterações nas
opiniões de grupos partidários.
A preferência partidária faz
pouca diferença. Entre os entrevistados com preferência
pelo PT, 44% apontam o setor
público como sinônimo de corrupção. Entre os ligados ao
PSDB, o percentual é de 48%.
Entre os simpatizantes peemedebistas, a taxa fica quase no
mesmo patamar, em 41%.
O mesmo se aplica aos que
dizem haver corrupção no Palácio do Planalto e nos ministérios. Esse é o caso para 90% dos
petistas e 93% dos simpatizantes do PSDB. De novo, os entrevistados ligados ao PMDB ficam um pouco abaixo, com taxa de 85%.
A pesquisa Datafolha publicada hoje é a primeira do gênero realizada pelo instituto. Dessa forma, não há como comparar com a opinião dos brasileiros em outros momentos.
Alguns dados sugerem que a
insatisfação dos brasileiros
com as instituições vem de longe, como, por exemplo, o alto
grau de renovação do Congresso a cada eleição.
Quando são consideradas as
últimas duas décadas, observam-se números expressivos.
Em 1990, a Câmara dos Deputados se renovou em 61,8%. Foi
um período de grandes mudanças no país, que havia voltado a
ter eleição direta para presidente no ano anterior, em 1989.
Começou então uma fase de redução da renovação.
Em 1994, a taxa de deputados
novos eleitos foi de 54,3%. Em
1998, nova queda, para 43,9%.
Daí para cá, a curva se inverteu.
No mesmo ano em que o Brasil elegeu Lula como presidente, em 2002, a Câmara registrou uma renovação de 44,8%.
Quatro anos depois, em 2006,
quando o país ainda ruminava
os efeitos do escândalo do mensalão, a taxa subiu para 47,6%.
Em 2010, dentro do Congresso,
a aposta é que o percentual vai
novamente dar um salto.
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