São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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Podres poderes

Congresso, Presidência e ministérios lideram percepção de corrupção entre instituições brasileiras; atos relacionados ao poder público são sinônimo de irregularidade, mostra pesquisa

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Chegou a fatura para o Congresso por conta da avalanche de imposturas registradas neste ano no Poder Legislativo. Para 92% dos brasileiros, há casos de corrupção envolvendo deputados, senadores e partidos políticos. Em seguida, vêm a Presidência da República e os ministérios (88%), os governos estaduais (87%) e as Assembleias Legislativas e seus deputados estaduais (86%).
Essa percepção negativa transborda para as outras principais instituições do país. Nenhuma se salva, segundo a pesquisa Datafolha. Todas pontuam acima de 50% quando a pergunta é sobre estarem envolvidas com corrupção.
A política local também tem imagem ruim. Prefeituras e Câmaras Municipais e a Polícia Militar dos Estados são vistas por 81% dos brasileiros como instituições nas quais existe corrupção. A Polícia Civil fica empatada na margem de erro da pesquisa, pontuando 79%.
Clubes de futebol, em geral apontados como antros de má administração e ilegalidades, também não são perdoados pelos brasileiros. Para 77% da população, os times têm alguma ligação com casos de corrupção. Um pouco abaixo estão a Polícia Federal (74%), o Poder Judiciário (juízes) e promotores (73%) e a imprensa (61%).

Sinônimo de corrupção
Quando os entrevistados são indagados sobre o que é corrupção, 43% apontam atos relacionados ao setor público e à política.
Só muito abaixo, com 21%, os brasileiros dizem que falta de ética é uma forma de definir a ação de um corrupto. Para 19%, a corrupção ocorre quando há roubo de dinheiro ou bens.
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, enxerga dois fatores que levam a esse resultado. Primeiro, "a generalização de que todo político é ladrão". Segundo, uma outra desconfiança antiga do brasileiro, "que acha que quase todas as instituições têm algum tipo de corrupção".
A onda de escândalos neste ano no Congresso apenas retroalimenta a imagem que já é ruim. Mas não é um fator determinante para o atual desgaste de quase tudo o que está ligado ao poder público.
"É curioso que a avaliação do Congresso, realizada pelo Datafolha há muitos anos, sempre tenha sido negativa. Não importa se há algum grande escândalo ou não", diz Mauro Paulino.
Outro aspecto a ser considerado é que o brasileiro usa olhares distintos ao avaliar os políticos. Por exemplo, para 88% dos brasileiros há corrupção na Presidência da República. Mas, ao mesmo tempo, 69% aprovam o trabalho realizado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa contradição, diz Mauro Paulino, pode ser atribuída ao desempenho positivo da economia, aos programas sociais implantados pela administração petista e "ao inigualável poder de comunicação de Lula".
Não se pode dizer que apenas os simpatizantes do PT ou de partidos lulistas garantem a boa imagem do governo. Na estratificação dos dados, não se nota grandes alterações nas opiniões de grupos partidários.
A preferência partidária faz pouca diferença. Entre os entrevistados com preferência pelo PT, 44% apontam o setor público como sinônimo de corrupção. Entre os ligados ao PSDB, o percentual é de 48%. Entre os simpatizantes peemedebistas, a taxa fica quase no mesmo patamar, em 41%.
O mesmo se aplica aos que dizem haver corrupção no Palácio do Planalto e nos ministérios. Esse é o caso para 90% dos petistas e 93% dos simpatizantes do PSDB. De novo, os entrevistados ligados ao PMDB ficam um pouco abaixo, com taxa de 85%.
A pesquisa Datafolha publicada hoje é a primeira do gênero realizada pelo instituto. Dessa forma, não há como comparar com a opinião dos brasileiros em outros momentos.
Alguns dados sugerem que a insatisfação dos brasileiros com as instituições vem de longe, como, por exemplo, o alto grau de renovação do Congresso a cada eleição.
Quando são consideradas as últimas duas décadas, observam-se números expressivos. Em 1990, a Câmara dos Deputados se renovou em 61,8%. Foi um período de grandes mudanças no país, que havia voltado a ter eleição direta para presidente no ano anterior, em 1989. Começou então uma fase de redução da renovação.
Em 1994, a taxa de deputados novos eleitos foi de 54,3%. Em 1998, nova queda, para 43,9%. Daí para cá, a curva se inverteu.
No mesmo ano em que o Brasil elegeu Lula como presidente, em 2002, a Câmara registrou uma renovação de 44,8%. Quatro anos depois, em 2006, quando o país ainda ruminava os efeitos do escândalo do mensalão, a taxa subiu para 47,6%. Em 2010, dentro do Congresso, a aposta é que o percentual vai novamente dar um salto.


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