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Filmoteca básica
Trono Manchado
de Sangue
ROBERTO GERVITZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Impactado por sua vitalidade, densidade e beleza, jamais esqueci este filme desde que o assisti, há cerca de
20 anos. Kurosawa [1910-98], o mais conhecido diretor
japonês, foi quem primeiro atraiu as atenções do mundo para o cinema de seu país.
Acusado de ser "o mais ocidental dos cineastas japoneses" , em "Trono Manchado de Sangue", salta aos
olhos a "antropofagia" que pratica. É curioso que um japonês tenha feito o que é para muitos a grande adaptação
de Shakespeare para o cinema. "Macbeth", a peça mais
popular do "bardo inglês" foi tratada sem reverência
-transposta para o Japão medieval, teve diálogos e personagens suprimidos e forte presença do teatro nô na interpretação dos atores e na música.
A narrativa concentrada e o privilégio à ação, já presentes no original, foram acentuadas no filme, que pode até
ser comparado a um thriller. O filme nos transporta para
as vísceras da nossa cega ambição por poder, não importa o preço que estejamos dispostos a pagar. Muito contemporâneo e apropriado para os dias que correm... Um
filme lunar, sombrio, os exteriores quase sempre tomados pelas brumas, que, como a seus personagens, nos impedem de ver o todo.
Kurosawa, mestre da elegância e do rigor estético, pertence à estirpe dos grandes criadores humanistas do século 20. O seu cinema, que teima em acreditar no homem, se contrapõe ao cinismo tão em voga atualmente.
Roberto Gervitz é cineasta e dirigiu filmes como "Braços Cruzados,
Máquinas Paradas", "Feliz Ano Velho" e "Jogo Subterrâneo".
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