São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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Filmoteca básica

Trono Manchado de Sangue

ROBERTO GERVITZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Impactado por sua vitalidade, densidade e beleza, jamais esqueci este filme desde que o assisti, há cerca de 20 anos. Kurosawa [1910-98], o mais conhecido diretor japonês, foi quem primeiro atraiu as atenções do mundo para o cinema de seu país.
Acusado de ser "o mais ocidental dos cineastas japoneses" , em "Trono Manchado de Sangue", salta aos olhos a "antropofagia" que pratica. É curioso que um japonês tenha feito o que é para muitos a grande adaptação de Shakespeare para o cinema. "Macbeth", a peça mais popular do "bardo inglês" foi tratada sem reverência -transposta para o Japão medieval, teve diálogos e personagens suprimidos e forte presença do teatro nô na interpretação dos atores e na música.
A narrativa concentrada e o privilégio à ação, já presentes no original, foram acentuadas no filme, que pode até ser comparado a um thriller. O filme nos transporta para as vísceras da nossa cega ambição por poder, não importa o preço que estejamos dispostos a pagar. Muito contemporâneo e apropriado para os dias que correm... Um filme lunar, sombrio, os exteriores quase sempre tomados pelas brumas, que, como a seus personagens, nos impedem de ver o todo.
Kurosawa, mestre da elegância e do rigor estético, pertence à estirpe dos grandes criadores humanistas do século 20. O seu cinema, que teima em acreditar no homem, se contrapõe ao cinismo tão em voga atualmente.


Roberto Gervitz é cineasta e dirigiu filmes como "Braços Cruzados, Máquinas Paradas", "Feliz Ano Velho" e "Jogo Subterrâneo".


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