|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CADEIA DE INFORMAÇÃO
16 de abril de 2009
Caro Paul,
É verdade que sou otimista quanto às possibilidades de longo
prazo do jornalismo,
mas a última coisa que
quero é incentivar a "inação".
Você quer ação para preservar um modelo de jornalismo
de jornais que nos serviu bem
por um século. Eu acho que podemos construir algo melhor.
Você fala das forças de longo
prazo que se alinharam contra
os jornais. Elas são reais.
Mas você passa por cima de
muitas das forças compensatórias -políticas, econômicas e
tecnológicas- que beneficiam
o jornalismo e também a cultura cívica que o cerca.
Hoje vemos novas e vastas
eficiências na distribuição, graças à passagem da mídia impressa à digital. Existem oportunidades inusitadas de participação na criação, curadoria e
discussão das notícias.
O acesso às informações governamentais também se tornou mais fácil.
Enquanto isso, novos sites
-incluindo um que eu criei,
Outside.in- permitem aos cidadãos tratar de questões "hiperlocais" ao nível de quarteirões e bairros das cidades, coisas que os jornais de cidades jamais poderiam alcançar.
Tudo isso vem acompanhado
da capacidade de agregar muitas vozes diferentes num único
site, sem pagar pelos custos de
criação desse conteúdo.
Mas falemos sobre o que está
acontecendo agora mesmo em
minha terra natal, o Brooklyn.
Fatos escusos
Você fala do declínio da cobertura jornalística do governo
estadual em Nova Jersey. Nos
últimos três anos, a questão cívica dominante no Brooklyn
tem sido a polêmica em torno
de um grande projeto de reurbanização, o Atlantic Yards.
No Outside.in, a página dedicada ao Atlantic Yards reúne
notícias, reportagens, comentários e bate-papo. Nos últimos
cinco dias saíram 30 artigos.
A edição impressa do "New
York Times" publicou só uma
matéria, nos últimos 30 dias,
mencionando o assunto.
Quão mais rica será a cobertura de uma questão pública
importante como essa nos próximos cinco anos?
Grandes bloggers irão apresentar notícias pela primeira
vez, comentar acontecimentos
e até ganhar dinheiro.
Pessoas e sites com paixão
por trazer fatos escusos à tona
-como o corajoso blog Atlantic
Yards Report- irão comparecer a todas as audiências públicas para formular perguntas difíceis e vão postar na internet
transcrições das audiências,
com comentários adicionais.
Amadores locais irão vasculhar documentos públicos em
busca de detalhes reveladores,
e pais presentes às audiências
escreverão em blogs sobre o
impacto em escolas específicas
à sombra do projeto.
E sites irão financiar artigos
investigativos sobre o histórico
passado das empresas envolvidas na construção.
Se forem espertos, jornais
como o "New York Times" e o
"New York Post" vão aproveitar essa cobertura, compartilhá-la com seus leitores, usá-la
para vender anúncios locais e
às vezes colocar um de seus repórteres treinados para desenvolver artigos novos.
Estes últimos, por sua vez,
acrescentarão valor enorme à
cadeia de informação, e o ciclo
inteiro recomeçará.
Menos jornalistas
Sim, é verdade que no final
desse processo haverá menos
jornalistas oficiais de jornais
cobrindo acontecimentos como o Atlantic Yards. Mas haverá um declínio correspondente
no engajamento cívico público? Não acredito.
Você fala sobre o velho sistema dos jornais aumentar o engajamento em parte porque as
pessoas tropeçavam na primeira página a caminho das páginas de quadrinhos. Eu nem sequer aceito essa premissa.
Qual sociedade lhe parece incluir mais participação cívica?
Uma em que o noticiário é
controlado por uma pequena
minoria e onde as interações cívicas das pessoas acontecem
como leitura feita a caminho da
seção de esportes?
Ou uma em que milhares de
pessoas comuns participam
ativamente na criação do próprio noticiário?
Steven
Texto Anterior: Risco democrático Próximo Texto: Detector de lixo Índice
|