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+ música
Compositor central deste século, Pierre Boulez fala do ensino e interpretação da arte moderna
Estratégias da expressão
Marie-Aude Roux
do "Le Monde"
Apesar de alegar "nunca ter
aprendido a reger", Pierre Boulez é um dos principais compositores e maestros da segunda metade do século. Nascido em 1925 em
Montbrison, cidadezinha perto de Lyon
(França), Boulez largou o estudo promissor de matemática para se dedicar à
música quando tinha 17 anos. Autodidata, além de regente é também compositor, sendo figura dominante e inovadora
na música de orquestra. Boulez fala também de sua atividade como pedagogo,
praticada nas aulas de regência que ministra na Academia Européia de Música.
Qual o objetivo dessa academia?
Tudo partiu de uma terrível constatação no que se refere ao mundo estudantil e ao repertório contemporâneo. De fato, se as classes instrumentais são geralmente de primeira ordem, as classes de regência são em geral desastrosas. Falta de professores?
Conservadorismo das instituições?
Sempre me pareceu indispensável,
para não dizer urgente, empreender
uma exploração sistemática desse repertório e ensinar a alguns alunos escolhidos a dedo quais são os problemas técnicos específicos enfrentados
pela música atual.
Então há um problema de "savoir-faire"?
De fato, não há tradição (tenho horror a essa palavra, mas a emprego de
propósito). Mesmo as dificuldades
técnicas de compasso, de geometria
do gesto, de transmissão do fraseado,
são muitas vezes completamente inusitadas. Lembro como se fosse hoje,
em 1945-46, quando as pessoas regiam Webern
(1883-1945): não havia nenhuma compreensão da
música, do fraseado, as notas não tinham nenhum
sentido, os músicos estavam perdidos...
Tudo isso agora resolvido por regentes como Simon Rattle ou Salonen!
São estes precisamente que invocam o seu testemunho!
Sim, mas são sobretudo personalidades fortes que
têm uma verdadeira compreensão da música e uma
gestualidade pessoal. A regência, no fundo, eu acho
que se aprende e não se aprende. É preciso ser um
homem ou uma mulher de comunicação. É uma
questão de morfologia mental, de correspondência
particular entre o físico e o espírito.
É ter aprendido sozinho que o instiga tanto a iniciar os
outros?
É verdade que eu nunca aprendi a reger e que, além
disso, comecei tarde. Minha carreira foi errática e eu
estava longe de ser formidavelmente dotado. Houve
primeiro os pequenos conjuntos de música de cena
no teatro de Jean-Louis Barrault, depois os concertos
do Domaine Musical. Mas seja em Stockhausen ou
no "Martelo sem Mestre", tive de forjar uma técnica para mim, desenvolver capacidades de reação, compreender como organizar um ensaio,
empregar o tempo de maneira eficaz,
conceber uma estratégia da obra e de
sua abordagem. No início, interrompemos à menor dificuldade, queremos resolver ali na hora. Depois, fazemos apelo à memória, o que confere
maior liberdade aos músicos.
O que há de específico na música contemporânea?
Nas obras de repertório, o texto já é
conhecido. A única questão que se
põe então é a maestria do estilo e da
interpretação. Na música contemporânea, é preciso saber também apresentar a obra estilisticamente, organizá-la, torná-la interessante e expressiva. No fundo, isso é o que importa.
Que a obra tenha uma expressão.
Se você devesse, como Schumann, dar
conselhos aos jovens regentes...
Primeiro, que se preparem mentalmente, analisem o conteúdo da partitura, tanto o expressivo quanto o estrutural. Depois, que o transmitam
em termos fáceis. Um ensaio não é
uma aula de composição. É preciso
ser prático: os planos sonoros, o caráter, o fraseado... Se isso não bastar, se
quisermos tal ou qual atmosfera poética, tal ou qual nuança de tom, podemos enfeitar um pouco. Cuidado com
o uso da metáfora!
Você diz que está regendo cada vez melhor...
Sim, estou mais suave e também ouço
melhor. Ou seja, estou menos preocupado comigo. No início, quando regia
a "Sagração da Primavera", de Stravinski (1882-1971), pensava em não
errar, em ter um belo gesto, dirigir bem todo mundo.
Para mim, é preciso sempre que haja uma mudança.
Não dar ordens, mas reagir à contribuição dos músicos e, se isso não coincide com o que você pensa, assimilá-lo e transformá-lo. Reger uma orquestra é como dirigir um carro: é preciso saber dar a partida,
mudar as marchas e pisar no breque na hora certa,
sem falar, claro, daquela parte do instinto... Tudo o
que posso fazer é jogar a isca, depois que se desenvolvam por si mesmos.
Tradução de José Marcos Macedo.
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