CARLOS SANDRONI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Publicado no alvorecer do século 20, é a pedra fundamental da psicanálise. E, gostando ou não de psicanálise, é um livro maravilhoso sobre um tema que fascina a humanidade desde sempre. Além de magnificamente bem escrito -lembremos que o único prêmio que Freud ganhou em vida não foi científico, mas literário. Algumas das idéias aí expostas em livro pela primeira vez iriam passar muito além dos domínios "psi", influenciando de maneira avassaladora o panorama intelectual do século passado, das artes à lingüística, passando pela antropologia e invadindo o senso comum e as conversas cotidianas.
A mim o livro influenciou tanto a título pessoal quanto intelectual (não sei se posso separar as duas coisas). Li-o enquanto fazia psicanálise e dava muita atenção a meus próprios sonhos, anotando-os diariamente (o que ajudava a lembrá-los cada vez mais). E com ele aprendi a ver na atenção às associações livres de idéias - tanto as minhas quanto as que procurei perceber em textos alheios - um poderoso instrumento de análise (e não só de psicanálise), e também uma fonte de criatividade, útil tanto na composição de canções quanto na escrita acadêmica.
Ao interpretar os sonhos, Freud nos deu imensas sugestões para interpretar as mais diversas produções culturais de maneira menos linear e menos submetida a uma lógica estreitamente definida.