São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Durkheim desvendou a sociologia do suicídio

Antes que Albert Camus definisse, nos anos 40, o suicídio como o "único problema filosófico realmente sério", o tema foi investigado em uma das obras capitais da moderna teoria social. O livro "O Suicídio" (1897, publicado no Brasil pela ed. Martins Fontes), do francês Émile Durkheim, é considerado fundamental para a consolidação da sociologia como ciência. Isso se deve ao pioneirismo da obra sob pelo menos dois aspectos: o uso de métodos de observação empírica, especialmente a estatística, e a ousadia de explicar como "fato social", externo aos indivíduos, um fenômeno -o ato de matar-se- geralmente atribuído ao arbítrio pessoal e a causas psicológicas. Além de mostrar que a predisposição suicida varia segundo fatores como credo religioso, gênero e estado civil, Durkheim (1858-1917) destacou três tipos de suicídio: o egoísta, o altruísta e o anômico. O suicídio egoísta, afim ao estereótipo do sujeito solitário, desalentado e que "não vê mais sentido em viver", deriva, segundo o sociólogo francês, da baixa integração do indivíduo a laços grupais e valores compartilhados. O suicídio altruísta, ao contrário, não decorre do isolamento, mas sim de uma identificação com o grupo tão intensa que põe em segundo plano a existência individual, daí a possibilidade do "auto-sacrifício" a causas ou a pressões coletivas. Já o suicídio anômico -de "anomia", ausência de regras- seria típico de sociedades em crise ou em transição histórica radical, como no Ocidente após as revoluções francesa e industrial. Nesse contexto, diz Durkheim, a falta de "coesão moral", de valores e instituições estáveis, acentuaria a suscetibilidade das pessoas ao suicídio.

Texto Anterior: O CONTATO DAS CIVILIZAÇÕES
Hans Magnus Enzensberger: Paranóia da autodestruição

Próximo Texto: Jacques Rancière: A história em pedaços
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.