MARÇAL AQUINO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma das jóias mais cintilantes da grande literatura praticada pelo holandês Cees Nooteboom (1933), que nos últimos anos é sempre citado como "finalista" do Nobel de Literatura. "A Seguinte História:" fala da incrível aventura vivida pelo professor Herman Mussert, que dorme em Amsterdã e acorda em Portugal, com direito a uma passagem pelo Pará e pelo Amazonas. Mas, entre o primeiro e o último capítulo do livro, que dão conta dessa viagem, "A Seguinte História:" também fala de outra viagem de Mussert, ainda mais perturbadora.
Especialista em mitologia, ele passou a vida se abrigando do mundo real nas páginas dos livros que abarrotam seu apartamento de solteirão. Até o dia em que é obrigado a vivenciar a mais humana das experiências, o amor, que lhe é dado, com sabor outonal e amargo, como parte de um plano de retaliação de uma mulher traída. Mussert descobre que, assim como entre os deuses da mitologia, no plano real são as fraquezas que conduzem à tragédia. A prosa de Cees Nooteboom é concisa e potente e se deixa contaminar o tempo todo por doses deliciosas de humor e erudição. "A Seguinte História:" é um livro sobre vários temas: tempo e espaço, metafísico e real, épico e mundano. Mas, acima de tudo, é um poema sobre o caráter trágico do amor humano.