São Paulo, domingo, 13 de março de 2005

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Biblioteca básica

"Os Demônios"

DOMINGOS OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Básico em qualquer biblioteca e em qualquer vida que se preze é Dostoiévski [1821-1881]. Eu poderia colocar aqui "Crime e Castigo", "Os Irmãos Karamazóv" ou até mesmo "Pobre Gente", mas, para escolher um, digo "Os Demônios". Dostoiévski não escreveu melhor que os outros escritores, escreveu muito melhor. Embora pertença a uma geração de talentos excepcionais (Tolstói, Górki, Gogol, Turgueniev, Tchecóv etc.) Dostoiévski consegue ser melhor. E em que consiste essa extrema qualidade? Se essa pergunta pudesse ser respondida em palavras, falaríamos em grandeza, transcendência, generosidade, misericórdia, compreensão do mundo, importância social... Tudo isso com muito humor. Una-se a isso uma dramaturgia louca, mas tão firme quanto a de Shakespeare, e tem-se Dostoiévski.
"Os Demônios" conta a história dos primeiros terroristas -pelo menos foi planejado com esta intenção; no entanto Stepan, o terrorista é, em importância, o quinto ou sexto personagem do livro. A obra é muito maior que as intenções do autor. Dizem que Dostoiévski não lia as suas obras depois de escritas. Acredito. Sua literatura é tão orgânica e tão fielmente tradutora do inconsciente do escritor que, se ele a relesse, teria de fazer outra. Se dois personagens de Dostoiévski discutem qualquer assunto, o leitor dá razão aos dois. Nunca nenhum escritor pulou tão bem de um personagem para outro, talvez nunca ninguém tenha amado tanto seus personagens.


Domingos Oliveira é cineasta e diretor de, entre outros, "Feminices", que está em cartaz em SP.

A obra
"Os Demônios", de Fiódor Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 704 págs., R$ 59. Ed. 34 (tel. 0/xx/11/3816-6777).


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