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Experiências dramáticas
Eu já tinha um
pequeno laboratório meu, onde
passara muitas
horas, e devia
ter visto versões
pequenas da tabela de Mendeleiev em livros. Mas
o fato de ver a imensa tabela periódica no museu, de ter me sentido extasiado com a visão e de tê-la
realmente assimilado pela primeira vez, foi o que me fez passar de
uma espécie de abordagem aleatória ou enciclopédica -colecionando todas as substâncias químicas que encontrava, fazendo
todas as experiências possíveis-
a um enfoque mais sistemático,
explorando por conta própria as
tendências dos elementos.
Uma experiência simples, muito
dramática (e ligeiramente perigosa), consistia em colocar pequenos torrões dos metais alcalinos
em água e observar como aumentava sua reatividade à medida que
se elevava sua massa atômica. Era
preciso fazê-lo com cuidado,
usando pinças, e equipando-se (e
aos convidados) com óculos de
proteção. O lítio se movia lentamente pela superfície da água,
reagindo com ela, emitindo hidrogênio, até acabar; um torrão
de sódio se movia pela superfície
emitindo um chiado forte, mas, se
o torrão fosse pequeno, não pegava fogo; o potássio, pelo contrário, pegava fogo assim que tocava
na água, queimando com uma
chama de cor violeta clara e expelindo glóbulos em todas as direções. O rubídio era ainda mais
reativo, incendiando-se com uma
chama vermelho rubi, e o césio,
conforme fui descobrir, explodia
ao atingir a água, rompendo o recipiente de vidro. Depois de um
experimento desses, nunca mais
se esquecia as propriedades dos
metais alcalinos.
A tabela periódica não chegava a
nos informar as propriedades dos
elementos, mas, como uma árvore genealógica, atribuía lugares
certos a cada um deles. O divertido, para mim, era voltar atrás,
partindo de seus lugares (como
haviam feito Mendeleiev e Lothar
Meyer), para ver como as propriedades variavam segundo seu lugar
e para mapear a geografia dessas
tendências, para meu próprio deleite. O tungstênio e o césio me
fascinavam -um tão duro, denso, infusível e não reativo, e o outro intensamente reativo, muito
leve, quase um líquido à temperatura ambiente.
Meu tio me mostrara esses dois.
Ele usava ambos em sua fábricas
de lâmpadas, ao lado do ácido forte que é o fluoreto de hidrogênio,
usado para "perolizar" as lâmpadas. Agora eu podia ver os lugares
que ocupavam o tungstênio, o césio e o flúor na tabela periódica e
podia calcular por conta própria
por que ocupavam esses lugares.
Podia representar em gráficos os
pontos de derretimento e as densidades do tungstênio e seus elementos afins, do césio e seus colegas. Podia traçar em gráfico as
propriedades físicas e químicas de
todos os elementos, contrapondo-os a suas massas atômicas, e
obter os gráficos mais belos e sedutores, com picos para os metais
do grupo 1, leves e de átomos
grandes, vales para os do grupo 8,
densos e de átomos pequenos, e
todos os intermediários, numa
belíssima expressão gráfica da periodicidade.
Pelo que eu via, todas as propriedades concebíveis variavam
periodicamente e eram ligadas, de
alguma maneira, à massa atômica, mas o porquê de qualquer dos
elementos possuir as propriedades que possuía, ou de tais propriedades se reapresentarem de
maneira periódica, acompanhando a massa atômica, era um enigma total para mim, como o fora
para Mendeleiev.
Embora a tabela original de
Mendeleiev tivesse alguns erros e
omissões, sua lógica e seu desenho eram tão claros que algumas
singularidades se destacavam de
imediato. Parecia haver dois espaços vazios entre o arsênico e o zinco. E o iodo e o telúrio pareciam
estar invertidos, em termos de
suas propriedades químicas.
Nos dois anos seguintes Mendeleiev dedicou longa reflexão a esses problemas (e outros), além de
realizar vários experimentos em
torno deles. Assim como mudara
a posição do berílio, considerando incorretas sua valência e sua
massa atômica supostas, ele audaciosamente mudou a posição de
meia dúzia de outros elementos.
Onde inicialmente estivera incerto sobre a suposta anomalia do telúrio e iodo, passou a insistir que
esses elementos têm lugares baseados em suas características
químicas evidentes -o telúrio no
grupo 6 e o iodo no grupo 7, pressupondo que acabaria por se descobrir que suas massas atômicas
estavam erradas.
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