São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998

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POEMA
"Horizon boy" (Menino do Horizonte)

Menino perdido, em longínquos horizontes - em distante reino,
onde coruscam riquezas, como rutilantes metais-

Onde vai?
- com esse pendor da sua tristeza- com esses teus ornatos e jóias- tão jovem ainda- diademas que te pesam e oprimem, sufocando, tantas vezes- - de um reino herdado há séculos- que ostenta pompas e tesouros?!

Tudo cairá em pó.
Vê se me entende- e tudo é vão; entre o pobre dos pobres- peregrino desse mundo, que sou-que esgotou vãs esperanças de ser ouvido ao menos, você, que me ouça- neste tanger que te murmura

Ventos longínquos me descortinam ondas mansas me revelam-

Olha-
atende o que lamento- esse alforge, de escolhas, ignorado -no ermo- em clausura de ti mesmo...

Menino, desses horizontes- que dos palácios ancestrais contemplas, em palanques, céus "incendiários" de vastos entardeceres- como dardeja ouro ou o ódio de tua gente, embuscando muitas vezes entre os zimborios e minaretes: a intriga, o fausto, e o orgulho-mescla as lascívias ao ser!

Saiba!
-dentro dessa casca- como a noz prensada em seu casulo- enquanto esse mundo durar- e não é ele vosso, pelo insidio da conquista?-Ninguém irá proclamar, tão pura verdade -a não ser o que sacares de ti mesmo na hora sábia da conclusão amarga.

Ouve -
como na prece, em recolhimento que recita ao cair da penumbra
a voz que apregoa o "alcorão"...

Nada -nem ouro, poder, nem beleza, que puderes dominar- equivale o momento -da súplica que o proclama.

Corre, aos confins da terra -e verás! Tudo -tudo vale, então, trocar, pelo tesouro que se esconder; sopro e alento -cavalgantes num mar- desse alerta que se apruma tão cansado...

Escuta! Atenta! Vê se o ativas embaixo de tantas camadas que o suprimem-

Quando souberes
que o amor é o que conta -ele só- também um errante; o que agasalha criaturas, por se amarem, tão somente; você, menino sombrio (plangido nestes meus acordes)-que não vê -que não escutas- quando souberes, já tarde -curvada, tua fronte, em mais idade - que o, máximo da ventura, é justamente, amar, neste mundo- e ser amado, em retorno!

(solos de flauta, guitarra, e um recuado saxofone de fundo, que amplia as suas incursões de lamento. A nota fina, sustida (a do "sax") será como se um calhau arremessado a um abismo: diminue gradativa, sem ser ouvido o seu baque final, pois que foge à visibilidade de escuta, do fundo onde desaparece, diminuindo na sua velocidade alongada como se na vertigem dormente, de seu inapelável destino.)



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