São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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É notável, no Mais!, a postura abrangente no trato de temas contemporâneos. Cultura, política, ciência, o leque de interesses contemplados é amplo, como o é a seleção de autores de colaboração regular, porém alternada, o que enriquece o debate e faz contraponto para as matérias de capa e outros ensaios, resenhas ou entrevistas. O mosaico de opiniões sinaliza a aposta na "força dos autores" em termos de ensaio e reflexão original, traço indispensável a esse tipo de suplemento. Nesse sentido, as mudanças na edição ao longo dos anos o tornaram melhor, permitindo alcançar um equilíbrio maior entre a dimensão do ensaio e a da atualidade-informação, entre o que é de consumo imediato e o que se deve revisitar (o novo formato facilita o arquivo). Sugestões? Que tal uma ação periódica mais incisiva na indução de determinados balanços sobre a produção de cultura no Brasil, desses simultâneos, que nos encorajam a conectar diferentes áreas do processo (literatura, teatro, cinema, música, política etc....)?

Ismail Xavier é professor de cinema na USP.

Acho que ao longo desses dez anos o caderno Mais! conquistou o lugar de uma referência importante para os intelectuais brasileiros, lançando questões polêmicas, divulgando muitos dos grandes pensadores estrangeiros ainda vivos e polarizando o debate a respeito de pontos críticos do mundo contemporâneo. O ponto fraco do caderno, a meu ver, é justamente o debate da produção cultural no Brasil. O caderno conta com excelentes resenhistas, críticos de cinema e artes plásticas etc., mas não formou até hoje uma tradição crítica consistente nem no campo da crítica literária nem no da discussão séria a respeito dos impasses da produção artística no Brasil.

Maria Rita Kehl é psicanalista e ensaísta.

Sempre que posso procuro o Mais!. Habituei-me a lê-lo todas as vezes que estava no Brasil, quer em trabalho, quer em períodos de férias, ou peço aos amigos para o trazerem, e conseguia encontrá-lo durante os anos que vivi em Paris. É um caderno excelente, com dossiês atualizados e competentes, textos de crítica e reflexão de primeira qualidade e uma notável atenção ao curso internacional da cultura. Donde, perto da realidade local e ao mesmo tempo elegantemente cosmopolita. Há ainda uma qualidade gráfica assinalável.

Eduardo Prado Coelho é um dos principais críticos literários de Portugal.

O Mais! é hoje o suplemento cultural mais interessante do país, porque é nele que está se dando a discussão intelectual na imprensa. Isso porque: 1) debate os temas mais interessantes da sociedade contemporânea, percebendo as questões mais importantes com uma acuidade que às vezes não se encontra na academia; 2) escolhe enfoques pouco convencionais e transdisciplinares; 3) preocupa-se constantemente com os problemas brasileiros; 4) os autores estrangeiros, sobretudo Rancière e Kurz, representam o que há de melhor no pensamento crítico atual; 5) o tratamento visual, que estabelece uma relação não-linear entre imagem-texto, nunca é banal.
Tenho porém duas críticas: 1) a redução do número de páginas e a consequente redução dos artigos não é compatível com o papel cultural que o suplemento cumpre; 2) às vezes há um espaço maior para autores estrangeiros ou ícones da cultura brasileira. Acho que o caderno poderia abrir mais espaço para novos autores brasileiros.

Laymert Garcia dos Santos é professor de sociologia na Universidade Estadual de Campinas.


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