LENINE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Este foi um livro marcante na minha vida. Meu pai, poeta e amante da poesia, foi quem me aplicou Augusto dos Anjos, e me lembro até hoje do impacto que me causou a descoberta. Meu pai abrindo aleatoriamente o livro e pinçando sonetos metafísicos, proféticos, soturnos, e, a cada novo soneto, minha admiração pelo poder daquelas palavras aumentava.
Como me impressionou Augusto dos Anjos; quis saber de sua vida, descobri a singularidade de sua obra (única, ele só fez o "Eu"), a fragilidade de seu caminho de professor, apesar de formado em direito, a perda do filho e sua morte prematura. É pessimismo elevado ao cubo; a incapacidade de amar de Augusto dos Anjos me comoveu ainda mais, em tudo há uma angustia consonante, uma solidão profunda, um materialismo radical.
Num dos sonetos, ele tenta explicar o processo da "idéia": "De onde ela vem?! De que matéria bruta/ Vem essa luz que sobre as nebulosas/ Cai de incógnitas criptas misteriosas,/ Como estalactites numa gruta?! (...)".
A rigidez da métrica e a cadência da música, associadas ao primor das rimas e o inusitado do vocabulário científico, faz de "Eu e Outras Poesias" um livro ímpar, que sobrevive ao tempo pela forma.
Há pouco tive o prazer de constatar a perenidade do poeta e retribuir o gesto de meu pai. Apliquei Augusto a meu filho de 16 anos e creio que, pelos olhos do Bruno, o impacto tenha sido o mesmo.