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ODE AO PATRIARCA
EXPOENTE DA TERCEIRA GERAÇÃO FEMINISTA, A AMERICANA NAOMI WOLF FAZ ELOGIO AO PAI EM NOVO LIVRO
MELISSA McCLEMENTS
Ultrajada e estridente, a feminista norte-americana
Naomi Wolf irrompeu na
atenção da mídia internacional em 1991, com a publicação de
"O Mito da Beleza", em que denunciava a exploração, feita pelas indústrias de beleza e moda, da preocupação das mulheres com sua própria
aparência.
Ironicamente, foi sua própria beleza que ajudou a elevar Wolf à fama.
Com seu rosto belo e longa cabeleira, ela desafiou o estereótipo das feministas e se tornou a porta-voz da
chamada "terceira fase" do feminismo, que procurou popularizar o
movimento feminista e defendeu
que as mulheres podiam e deviam
ter tudo: carreira profissional, relacionamentos e família.
No entanto, depois de passar anos
argumentando em prosa emotiva
contra a opressão das mulheres pela
sociedade patriarcal, o livro mais recente da autora -"The Treehouse
-Eccentric Wisdom from My Father
on How to Live, Love, and See [A Casa na Árvore - Sabedoria Excêntrica
do Meu Pai Sobre como Viver, Amar
e Ver. Simon & Schuster, 288 págs.,
US$ 24, R$ 52]- é um elogio abertamente sentimental a seu próprio patriarca -seu pai, Leonard Wolf.
O livro descreve como ele transmitiu à filha uma série de lições sobre a
vida, o amor e a arte, enquanto a ajudou a construir uma casa em uma
árvore para a filha da escritora, Rosa,
em sua casa de campo no interior de
Nova York.
Todos são artistas
Enquanto pai e filha martelam
pregos e pintam a madeira, Naomi
Wolf vai pouco a pouco compreendendo e aderindo à visão de mundo
de seu pai, contra a qual se rebelara
anteriormente, e decide tentar viver
segundo seus princípios. Parece que,
no momento em que ingressa na
meia-idade, a polemista feminista
começa a pensar que papai tinha razão, afinal de contas.
Por estranho que possa parecer "A
Casa na Árvore" é um livro cativante
e memorável. Poeta e idealista excêntrico, Leonard é extremamente
sedutor, e suas idéias, também. Ele
acredita que, no fundo, todas as pessoas são artistas e que a criatividade
pessoal é o segredo da felicidade.
Não que pense que todo mundo seja
um Van Gogh ou um Beethoven que
ainda não se tenha se descoberto.
Para ele, a criatividade pode se manifestar na jardinagem, na cozinha,
quando se contam anedotas divertidas a amigos ou mesmo quando se
monta um pequeno negócio. O segredo consiste em "identificar o que
seu coração deseja" e depois seguir
seu sonho da maneira mais criativa
possível.
Tudo isso poderia ser piegas demais, mas a presença de Leonard,
com suas idiossincrasias, suas manias e imperfeições, salva o livro de
ser uma versão pseudo-intelectual
de um manual caseiro de auto-ajuda. Quer esteja vestido de pastor
basco ou pescador grego, bebendo
absinto ou discursando sobre a importância de comprar um perfume
caro para sua mulher, ele é uma figura colorida, exuberante e divertida.
Judeu ortodoxo de nascimento,
Leonard Wolf passou sua primeira
infância na Romênia, até mudar-se
com sua família para Nova York no
final dos anos 1920.
Humanismo otimista
Tendo sofrido a pobreza e o isolamento típicos de imigrantes, agravados pela Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, Leonard enxergava a poesia como maneira de
viver em mundos que ultrapassavam o mundo real.
Envolvido no movimento beat na
Califórnia nos anos 1950 e no hedonismo hippie da década de 1960, ele
nunca abandonou sua forma própria de humanismo otimista.
Além de ser uma biografia de Leonard e um tratado sobre suas idéias,
"A Casa na Árvore" contém informações autobiográficas sobre a vida
de Naomi Wolf. Entretanto, diferentemente de sua voz escrita anterior,
afirmativa e senhora de si, a Naomi
Wolf deste livro questiona constantemente seu próprio comportamento e retidão.
Isso pode ou não ser uma clássica
crise da meia-idade, mas o fato é que
a mulher que aconselhou o então
candidato Bill Clinton para ajudá-lo
a conseguir o voto feminino e que tachou Al Gore de "macho beta" amadureceu e se abrandou, a ponto de
ter escrito uma homenagem a seu
próprio pai que é comovente a ponto de amolecer o coração dos cínicos
mais endurecidos.
Este texto foi publicado originalmente no
"Financial Times".
Tradução de Clara Allain.
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