|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Arqueóloga é a alma do parque
Sem Niède Guidon e sua disposição para a
guerra, apesar dos 67 anos e dos dois pinos
nos joelhos roídos pelo sobe-e-desce de barrancos, não haveria o Parque Nacional da
Serra da Capivara, a 30 km de São Raimundo Nonato (sudeste do Piauí). Também não
existiria a Fundação Museu do Homem
Americano (Fumdham), maior empregador e contribuinte da cidade. Nem o Hotel
Serra da Capivara, o melhor da região, escolas rurais, estradas transitáveis, oficinas de
cerâmica, projetos de apicultura...
Apesar de arqueóloga, Guidon não está
escavando no presente nenhum dos 420 sítios identificados na área do parque e ao seu
redor. Quem visita a região só encontrará
vestígios de trabalho arqueológico no abrigo de rocha conhecido como Toca do Coqueiro, cujo assoalho escavado em 1998-99
está coberto por plástico preto e madeiras.
Dali saiu o esqueleto feminino batizado de
"Zuzu", que aos 11 mil anos estimados rivaliza com a Luzia de Lagoa Santa (MG).
Toda a energia de Guidon e seu séquito de
pesquisadoras e auxiliares, após três décadas de Piauí, parece estar voltada para a preservação do parque, sob constante ameaça
de caçadores e exploradores de calcáreo. O
que mais preocupa é a escassez de tamanduás, predador natural dos cupins que
constroem galerias sobre as paredes de pedra, muitas vezes sobre as pinturas rupestres que Guidon acredita serem mais antigas
que as das famosas grutas européias de Lascaux e Altamira.
Para repovoar o parque com a fauna local,
a Fumdham comprou a fazenda "dos Oitenta" (nome que ninguém sabe explicar), contígua ao parque, para criar animais silvestres (tamanduás, tatus, emas e caititus), projeto de R$ 1,5 milhão obtidos por meio de
empréstimo. Um lote de 50-60 emas deveria
chegar à propriedade em fevereiro.
Guidon passa a maior parte dos dias fiscalizando obras. Diz que odeia bode assado e
cerveja, as grandes diversões locais. Seu orgulho maior está na contenção da erosão
que come as encostas do parque, nos poucos períodos de chuva.
(MARCELO LEITE)
Texto Anterior: Marcelo Leite: A falha arqueológica do Brasil Próximo Texto: + arte: Eisenstein secreto Índice
|