São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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Brasilianistas estudam da ditadura à sexualidade

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

O que andam fazendo os brasilianistas? A Folha fez essa pergunta a alguns dos que mais têm produzido nos últimos anos e descobriu que boa parte se enveredou pela ditadura militar. Também há uma brasilianista concorrendo à presidência da Associação Histórica Americana.
O cientista político e presidente da Brasa (Brazilian Studies Association), Timothy J. Power, finaliza um artigo sobre os primeiros anos de governo Lula, em co-autoria com Wendy Hunter. "O Governo Lula no Meio do Mandato - Moldando a Terceira Década de Democracia no Brasil" deve ser publicado, em julho, no "Journal of Democracy".
Ainda dentro da ciência política, Anthony Pereira, da Universidade Tulane, publica até outubro o livro "Political (in)Justice - Authoritarianism and the Rule of Law in Brazil, Argentina and Chile" ([In]Justiça Política - Autoritarismo e o Estado de Direito no Brasil, na Argentina e no Chile).
O livro analisa os julgamentos políticos nos tribunais militares brasileiros entre 1964 e 1979 em comparação com processos semelhantes da ditadura chilena e a extrema violência extrajudicial contra dissidentes na Argentina. A partir de julho, Pereira, neto de açoriano, será professor visitante da Universidade Federal de Pernambuco durante um ano.
A ditadura militar também tem recebido atenção do historiador Jeffrey Lesser, diretor do Programa de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos da Universidade Emory. Continuando seu foco nas relações entre nação e etnicidade, finaliza o livro com o título provisório de "The Pacific Rim in the Atlantic World" (A Margem do Pacífico no Mundo Atlântico), sobre nipo-brasileiros envolvidos em organizações de esquerda e na indústria cinematográfica durante aquele período.
"Estou particularmente interessado em investigar os limites da flexibilidade étnica como uma imposição interna e externa dentro de um grupo fortemente ligado a uma potência internacional, o Japão", afirma Lesser.
Outro estudo da ditadura militar, mas não apenas, é o do historiador Kenneth Serbin, que segue com o tema da Igreja Católica. Fruto de 20 anos de pesquisa e reflexão, "Needs of the Heart - A Social and Cultural History of Brazil's Clergy and Seminaries" (Necessidades do Coração -Uma História Social e Cultural do Clero e dos Seminários Brasileiros) será publicado em breve pela University of Notre Dame Press. "Trata-se de uma explicação da transformação do clero nos últimos 50 anos na ótica dos 500 anos de história da Igreja Católica no Brasil, com enfoque especial nos seminários", diz.
O substituto de Thomas Skidmore na Universidade Brown, James Green, publica em breve no Brasil dois livros co-organizados por ele: "Homossexualismo em São Paulo e Outros Escritos", junto com Ronaldo Trindade, e "Frescos Trópicos -Fontes sobre Homossexualidade Masculina no Brasil, 1870-1980", em parceira com Ronaldo Polito.
Enquanto isso, finaliza "We Cannot Remain Silent - Opposition to the Brazilian Military Dictatorship in the United States, 1965-85", cujo título em português será "Apesar de Você".
Já o historiador Jerry Dávila, da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, segue para os trópicos em meados do ano para retomar sua pesquisa sobre as relações entre Brasil e África durante o processo da descolonização do continente. "A independência africana mudou tanto o papel do Brasil no mundo quanto o sentido do pensamento racial brasileiro", afirma.
E quem concorre à presidência da mais importante associação de historiadores dos Estados Unidos é Barbara Weinstein, da Universidade de Maryland. Se ganhar, será o primeiro brasilianista no comando da AHA desde a sua fundação, há 125 anos. Enquanto faz campanha, finaliza o livro "Region vs. Nation - São Paulo and the Racializing of Regional Identity in Brazil" (Região vs. Nação - São Paulo e a Racialização da Identidade Regional no Brasil).

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