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COM TODAS AS LETRAS
A jaula reprodutora
da Reportagem Local
O advogado criminalista Evandro Lins e Silva, 68, defendeu, durante palestra promovida pela Folha e pela Academia Brasileira de
Letras, uma maior aplicação das
penas alternativas como uma das
formas de combater o avanço da
criminalidade no Brasil.
"A cadeia é uma jaula reprodutora de criminosos", afirmou Lins
e Silva durante a palestra "Visão
Global da História da Pena",
ocorrida no dia 16 de novembro. O
evento fez parte do ciclo mensal
"Com Todas as Letras", que
trouxe integrantes da Academia
Brasileira de Letras para conversar
com o público.
Lins e Silva, que ocupa desde
agosto deste ano a cadeira número
um da academia, foi chefe da Casa
Civil no governo João Goulart e
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) de 1963 a 1969, quando foi cassado pelo AI-5.
Em 1992, foi um dos advogados
que redigiram o pedido de impeachment do então presidente
Fernando Collor.
Para o advogado, que defende a
substituição da pena de prisão por
penas alternativas, "a cadeia não
soluciona nada, na verdade, cria
criminosos". Lins e Silva afirma
que penas alternativas são uma
maneira "mais inteligente de demonstrar a desaprovação da sociedade" para certos tipos de atitude.
"A prisão só deve ser aplicada
em último caso, quando se trata de
pessoas realmente perigosas. A
prisão é má, segregadora e devastadora da natureza do homem. A
prisão é tão degradante que até
hoje eu não entendo como temos
poucas rebeldias (rebeliões)."
"Não é com a severidade da pena que se combate a criminalidade. Fosse assim, bastaria introduzir a pena de morte", declarou.
Lins e Silva afirma ainda que
manter uma prisão em funcionamento demanda um volume grande de investimento. "Cada preso
custa, em média, de cinco a sete
salários mínimos. Essa quantia
poderia ser utilizada em obras sociais, que contribuem para evitar o
crime." O advogado citou alguns
problemas sociais, como miséria e
desemprego, como fatores que
causam violência.
Ele criticou ainda a atual situação do sistema penitenciário, com
cadeias superlotadas. "Como é
possível manter esses xadrezes policiais? Hoje se vê cadeias, que deveriam ter 5 presos, com 20, 30.
Isso é revoltante."
Lins e Silva se mostrou contrário
também à aplicação, em demasia,
da prisão provisória.
"Em alguns casos, descobre-se,
depois de cinco, dez dias, que a
pessoa é inocente. Antes do reconhecimento da culpabilidade, a
prisão provisória é uma arbitrariedade."
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