São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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O VeLHO, O MeNINO E O BuRRO

por Raimundo Carrero

Um velho carregando um burro nas costas? Duvidoso. Um velho e um menino carregando um burro nas costas? Ainda mais duvidoso. A cena pode parecer insólita e, mais do que insólita, grosseira. Isto é: para quem tem alma burocrática. Para quem vive num país onde o ridículo e penoso se misturam, nada mais real. Nada mais absolutamente real. É verdade.
O velho, este Brasil tradicional e antigo, insiste em caminhar em direção ao passado enquanto o Brasil burro, radical e prepotente, carrega nas costas o Brasil menino, livre e esperto. E há quem diga: Não tem vergonha, não? O velho não é respeitado, enquanto o burro carrega o Brasil menino? A situação se refaz: O velho monta no burro e o menino vai a pé. Bronca outra vez.
Não tem vergonha, não? Um velho montado num burro, deixando o menino caminhar cansado? E os dois: o velho e o menino decidem carregar o burro nas costas. E relinchando. É claro.
Moral da história: Enquanto o tradicional e o renovador brigam, o burro domina a nação.


Raimundo Carrero é escritor, autor de, entre outros, "Sombra Severa" e "As Sombrias Ruínas da Alma" (ed. Iluminuras).


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