São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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Os ouvidos de cada um

Na fábula do grego Esopo, que viveu entre os séculos 7º e 6º a.C., um lavrador decide vender seu burrico e leva-o à feira, acompanhado de seu filho. Os dois seguem a pé, puxando-o pelo cabresto, para que o burro chegue descansado. Lavradores e mercadores que os vêem passar sucedem-se em reclamações: uns julgam que estão fazendo penitência, o que leva o pai a ir montado no animal. Algumas mulheres consideram desaforo o menino seguir a pé, e o pai faz o filho montar na garupa. Outros exclamam que "o pobre animal já nem fôlego tem", então o lavrador decide deixar apenas o filho montado, seguindo a pé. Um outro ironiza tratar-se de um príncipe seguido de seu lacaio. "Não podemos dar ocasião a tais afrontas; filho, carreguemos o burro às costas." Assim fazem e alguns rapazes desatam a rir diante da cena. "Qual dos três é mais burro?", perguntam. "Sou eu, responde o lavrador, "que por todo o caminho dei ouvidos a cada um."


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