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CONEXÃO AMERICANA
Ex-adido militar diz que EUA não precisavam ensinar brasileiros a dar golpes
"Não ouvi falar em OPS"
especial para a Folha
"Os americanos não têm experiência em golpes militares. Seria
ridículo eu procurar generais brasileiros para dar um golpe, quando eles tinham derrotado o Getúlio Vargas. Eles não precisavam
dos meus conselhos", afirma o
general Vernon Walters, que foi
adido militar da embaixada norte-americana durante o período
militar no Brasil.
Veterano da Segunda Guerra e
amigo de Castelo Branco, Walters
era considerado um especialista
em combater o comunismo. Ele
trabalhou no Brasil entre 1962 e
1967. Também foi adido militar do
Chile, pouco antes da queda de Allende, em 1973. Chegou ao posto
de vice-diretor da CIA durante a
administração Richard Nixon
(1969-1974), presidente norte-americano que renunciou após o
escândalo Watergate.
Considerado pelo historiador
Moniz Bandeira como o coordenador das ações da CIA no Brasil,
Vernon Walters afirmou na entrevista a seguir, feita por telefone de
sua residência em Washington,
que não sabe o que é a OPS e que
não teve relações com a CIA quando era adido militar no país. Segundo ele, a CIA fazia no Brasil à
época o mesmo que o SNI nos Estados Unidos: "Procurava saber
coisas interessantes sobre o país".
Folha - Como foi sua participação
no movimento militar de 64?
Vernon Walters - Seu jornal
sempre diz que eu estava envolvido, mas não estava. Os telegramas
que enviei do Brasil para os Estados Unidos estão disponíveis nos
arquivos. Desafio a imprensa a
achar uma mensagem que prove a
minha intervenção. Eu era apenas
uma testemunha bem informada.
Folha - Qual era o seu papel na
embaixada?
Walters - Era um coronel americano sem experiência em golpes,
se comparado com generais brasileiros, que tinham derrotado dois
presidentes em 25 anos.
Folha - Como a CIA operava no
Brasil?
Walters - Naquela época, eu
não era da CIA. Só depois, em
1972, que vim a trabalhar na agência.
Folha - Quando estava no Brasil,
o sr. tinha algum contato com a
CIA?
Walters - Não.
Folha - O coronel Erasmo Dias
nos informou que todos os adidos
militares que estiveram no Brasil
eram da CIA.
Walters - Os oficiais militares
não eram, nem nunca são.
Folha - O que a CIA fazia no Brasil?
Walters - Fazia o mesmo que o
SNI fazia aqui, nos Estados Unidos, procurava saber coisas interessantes sobre o país.
Folha - O sr. chegou a influenciar
nas decisões dos militares brasileiros?
Walters - Que eu saiba, não.
Nunca procurei influir na decisão
dos militares brasileiros. Eram
perfeitamente capazes de tomar
suas próprias decisões.
Folha - Onde a CIA tinha escritórios no Brasil?
Walters - Não sei. Ela não me
dizia. Tive contato de vez em
quando, nas reuniões da embaixada, com o chefe da seção.
Folha - Qual sua relação com o
Ibad (Instituto Brasileiro de Ação
Democrática)?
Walters - Não sei o que é. Minha função era militar. Minhas conexões eram militares, não policiais. O que o senhor quer saber,
afinal? Naturalmente, eu informava sobre o estado de espírito dos
militares. Era o meu dever como
adido militar.
Folha - Por que seu nome está
sempre associado ao movimento
militar de 64?
Walters - Não sei. Tudo é sempre culpa dos americanos. Os americanos não têm experiência em
golpes militares. Seria ridículo eu
procurar generais brasileiros para
dar um golpe, quando eles tinham
derrotado o Getúlio (Vargas, em
1945). Eles não precisavam dos
meus conselhos.
Folha - O sr. conhece a OPS?
Vernon - Nunca ouvi falar.
Folha - Era um programa de intercâmbio para treinar policiais do
mundo inteiro.
Walters - Era um vasto projeto.
Folha - O sr. conheceu Theodore
Brown (chefe da OPS no Brasil)?
Walters - Não. O senhor está
tentando pescar informações para
ver se descobre algo. Nunca participei de planejamento ou de investigação ligados ao Brasil. O senhor
está com uma montanha de informações antiamericanas e está procurando confirmar comigo.
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