|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONEXÃO AMERICANA
Coronel Erasmo Dias diz que EUA não atuaram na polícia
"É uma bobagem"
especial para a Folha
e do "Notícias Populares"
"Dizer que os norte-americanos
tinham agentes na polícia e no
Exército é uma bobagem", afirma
o deputado estadual (PPS-SP) e
coronel do Exército Erasmo Dias.
Secretário de Segurança Pública
de São Paulo de 1974 a 1979, Dias
se notabilizou como um dos mais
ferrenhos oponentes das esquerdas e do movimento estudantil.
Para ele, dizer que a CIA atuava
ostensivamente no Brasil é "dar
um atestado de burrice". Dias, no
entanto, declarou que todo oficial
que servia na embaixada norte-americana era ligado à CIA. Afirmou também que recebeu um fuzil AR-15 de presente de um agente
da CIA.
Ao ler um dos relatórios enviados pela OPS do Brasil para os
EUA, citado por Martha Huggins e
que indica que o agente Lauren
Mullins tivera acesso a informações internas da polícia de São
Paulo, Dias contestou: "Isso aqui
é uma besteira".
Folha- O sr. poderia comentar o
relatório feito pelo agente da OPS
Lauren Mullins, comunicando a
Washington atividades da polícia
em São Paulo?
Erasmo Dias - Nunca ouvi falar
nesse agente. É uma mentira o que
ele diz aqui: que, em São Paulo, o
prefeito Faria Lima efetivou uma
Guarda Municipal com recrutamento inicial de mil pessoas... É de
um analfabetismo crucial. Ele fala
em uso de computador... Que
computador? Não havia. É uma
xaropada.
Folha - O agente parece ter tido
acesso a informações da Secretaria
de Segurança Pública.
Dias - Ele diz que se encontrou
com um secretário de Segurança
Pública de São Paulo em março de
1969, mas nunca ouvi falar nesse
agente. Pelo relatório dá para ver
que ele não sabia de nada. Os norte-americanos eram mal informados, e esse relatório não representa
nem um quinto do que se conhecia
na época.
Folha - As autoridades brasileiras
abriram as portas para agentes
norte-americanos?
Dias - Lógico. Outro dia o xerife
de Nova York veio aqui e eu o levei
aos pontos de crack e ao diabo que
o carregue... Mas, naquela época,
quando eu estava no Exército,
nunca fui procurado por norte-americanos. Como secretário da Segurança Pública de São Paulo, sim.
Mandei cinco ou seis delegados
para fazer cursos na Swat, nos
EUA. Mandei também oficiais para Tóquio. Ganhei um fuzil AR-15
da CIA.
Folha - A Oban teve envolvimento de norte-americanos?
Erasmo Dias - A Oban surgiu
com o AI-5. Quando apareceu a
guerrilha da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e da ALN
(Ação Libertadora Nacional), o
troço todo começou a engrossar. A
segurança interna do Exército não
tinha nada, só centros de informações. Ninguém estava preparado
para a guerrilha. Então, formamos
aqui em São Paulo a Segunda Seção do Estado-Maior do Segundo
Exército. Surgiram uma seção de
informações e outra de operações,
que iriam combater esses movimentos novos. Foi tudo improvisado. Pegamos uma equipe da Polícia Civil, que era do Dops, uma
da Polícia Militar, sempre gente ligada à informação. Não tinha nada
a ver com CIA. Dizer que tinha é
um atestado de incapacidade.
Folha - O livro mostra que a estrutura da Oban foi copiada depois
no Projeto Phoenix, adotado no
Vietnã. O criador do Projeto Phoenix, Theodore Brown, veio para o
Brasil quando se criou a Oban.
Dias - Vou fazer uma pergunta
de advogado do diabo. Vocês
acham que, se existisse toda essa
estrutura montada com ajuda dos
norte-americanos, nós teríamos
tanta dificuldade para combater?
Os guerrilheiros tinham curso em
Cuba, mas aqui não tinha americano nenhum.
Folha - E a CIA?
Dias - Olha, Vernon Walters
era amigo do Brasil. Mas uma coisa é certa: todo mundo que serve
na embaixada é ligado à CIA, sem
exceção. Antes de vir, eles passam
um período na agência. Na época,
eles tinham um especial desvelo
pelo Brasil.
Folha - E Charles Chandler, capitão norte-americano morto em
São Paulo em 1968 por guerrilheiros brasileiros, ele era da CIA?
Dias - Era do consulado, mas eu
já disse: todos esses camaradas
eram. O Chandler nos ajudava. A
CIA aproveita muito essa gente.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|