São Paulo, domingo, 23 de agosto de 1998

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CINEMA
Donald Richie traça perfis do Japão contemporâneo
Um observador amoroso

LÚCIA NAGIB
da Equipe de Articulistas

Em junho passado, o Brasil perdeu a oportunidade de conhecer o maior crítico e historiador contemporâneo do cinema e da cultura japoneses. Problemas de saúde impediram que Donald Richie visitasse o país, onde deveria dar uma série de palestras e acompanhar uma mostra de filmes japoneses de sua predileção. Dois outros eventos, porém, tentarão compensar essa ausência. Nos dias 27, 28 e 30 próximos, o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo estará apresentando um programa de filmes de Richie, cineasta bissexto que, sobretudo nos anos 60, realizou uma série de curtas experimentais no Japão.
O outro evento será o lançamento em breve, pela Editora Escrituras, de seu livro "Anônimos e Notáveis - Retratos do Japão", do qual o Mais! publica abaixo um trecho inédito.
Nascido em Ohio, nos Estados Unidos, em 1924, Richie adotou o Japão como pátria desde que lá desembarcou, em 1947, como datilógrafo das forças de ocupação. Driblando a guarda que separava o território de Tóquio entre ocupantes e ocupados, o jovem americano penetrava nos cinemas de Asakusa, centro boêmio da cidade, onde assistia filme após filme, sem entender uma palavra. Logo, porém, se familiarizou com a língua e passou a frequentar os estúdios cinematográficos, tornando-se a seguir crítico de cinema e de artes, atividade que exerce até hoje nas páginas do "Japan Times".
Tendo adquirido um volume considerável de conhecimento sobre a produção cinematográfica japonesa, Richie, junto com Joseph L. Anderson, publicou, em 1959, a primeira grande história do cinema japonês em língua não-japonesa: "The Japanese Film - Art and Industry". Outros clássicos se seguiram, como "Os Filmes de Akira Kurosawa" (publicado no Brasil pela Brasiliense) e "Ozu", livros sobre dois grandes mestres do cinema japonês.
Desprezando imagens prontas e a postura de "observador distante", Richie "viveu" o Japão. Produziu sobre o país, em que até hoje reside, cerca de 50 livros do gênero ensaio, história, ficção, crítica de arte, além de guias culturais.
"Anônimos e Notáveis" é uma coleção de perfis de personagens japoneses com quem Richie conviveu. Não se trata apenas de celebridades -como os escritores Yasunari Kawabata e Yukio Mishima e os cineastas Kurosawa, Ozu e Oshima-, mas também da cabeleireira, do gângster, do garoto de programa. Todos merecem a mesma atenção, a mesma observação amorosa e não raro ferina, a mesma compaixão combinada a um infalível senso de humor.
O texto reproduzido aqui é um perfil da famosa assassina Sada Abe, que, em 1936, estrangulou o amante e cortou-lhe o pênis. Presa e condenada, Abe escreveu um livro sobre sua história, que deu base ao filme erótico "O Império dos Sentidos", de Nagisa Oshima. Richie conheceu a criminosa depois de solta da prisão, trabalhando num bar no centro de Tóquio.


O FESTIVAL
O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que acontece até o dia 29 de agosto, traz 346 filmes de 38 países. A seleção de obras de Donald Richie será apresentada nas seguintes datas: dias 27 e 28 de agosto, às 23h, no MIS; e, dia 30, às 20h, no Museu Lasar Segall. Informações pelo tel. 011/852-9601.



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