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CINEMA
Donald Richie traça perfis do Japão contemporâneo
Um observador amoroso
LÚCIA NAGIB
da Equipe de Articulistas
Em junho passado, o Brasil perdeu a oportunidade de conhecer o
maior crítico e historiador contemporâneo do cinema e da cultura japoneses. Problemas de saúde
impediram que Donald Richie visitasse o país, onde deveria dar
uma série de palestras e acompanhar uma mostra de filmes japoneses de sua predileção. Dois outros eventos, porém, tentarão
compensar essa ausência. Nos dias
27, 28 e 30 próximos, o Festival Internacional de Curtas-Metragens
de São Paulo estará apresentando
um programa de filmes de Richie,
cineasta bissexto que, sobretudo
nos anos 60, realizou uma série de
curtas experimentais no Japão.
O outro evento será o lançamento em breve, pela Editora Escrituras, de seu livro "Anônimos e Notáveis - Retratos do Japão", do
qual o Mais! publica abaixo um
trecho inédito.
Nascido em Ohio, nos Estados
Unidos, em 1924, Richie adotou o
Japão como pátria desde que lá desembarcou, em 1947, como datilógrafo das forças de ocupação. Driblando a guarda que separava o
território de Tóquio entre ocupantes e ocupados, o jovem americano penetrava nos cinemas de Asakusa, centro boêmio da cidade,
onde assistia filme após filme, sem
entender uma palavra. Logo, porém, se familiarizou com a língua
e passou a frequentar os estúdios
cinematográficos, tornando-se a
seguir crítico de cinema e de artes,
atividade que exerce até hoje nas
páginas do "Japan Times".
Tendo adquirido um volume
considerável de conhecimento sobre a produção cinematográfica
japonesa, Richie, junto com Joseph L. Anderson, publicou, em
1959, a primeira grande história
do cinema japonês em língua
não-japonesa: "The Japanese
Film - Art and Industry". Outros
clássicos se seguiram, como "Os
Filmes de Akira Kurosawa" (publicado no Brasil pela Brasiliense)
e "Ozu", livros sobre dois grandes mestres do cinema japonês.
Desprezando imagens prontas e
a postura de "observador distante", Richie "viveu" o Japão. Produziu sobre o país, em que até hoje
reside, cerca de 50 livros do gênero
ensaio, história, ficção, crítica de
arte, além de guias culturais.
"Anônimos e Notáveis" é uma
coleção de perfis de personagens
japoneses com quem Richie conviveu. Não se trata apenas de celebridades -como os escritores Yasunari Kawabata e Yukio Mishima
e os cineastas Kurosawa, Ozu e
Oshima-, mas também da cabeleireira, do gângster, do garoto de
programa. Todos merecem a mesma atenção, a mesma observação
amorosa e não raro ferina, a mesma compaixão combinada a um
infalível senso de humor.
O texto reproduzido aqui é um
perfil da famosa assassina Sada
Abe, que, em 1936, estrangulou o
amante e cortou-lhe o pênis. Presa
e condenada, Abe escreveu um livro sobre sua história, que deu base ao filme erótico "O Império
dos Sentidos", de Nagisa Oshima.
Richie conheceu a criminosa depois de solta da prisão, trabalhando num bar no centro de Tóquio.
O FESTIVAL
O Festival Internacional de Curtas-Metragens de
São Paulo, que acontece até o dia 29 de agosto,
traz 346 filmes de 38 países. A seleção de obras
de Donald Richie será apresentada nas seguintes datas: dias 27 e 28 de agosto, às 23h, no MIS;
e, dia 30, às 20h, no Museu Lasar Segall. Informações pelo tel. 011/852-9601.
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