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Questão de fidelidade
Paulo Ghiraldelli Jr.
especial para a Folha
Junto com Alberto Tosi Rodrigues
sou um dos responsáveis pelo fato
de o livro "Achieving our Country
-Leftist Thought in Twentieth-Century America" (Harvard, 1998) ter sido publicado no Brasil com o título
"Para Realizar a América - O Pensamento de Esquerda no Século 20 na
América" (DP&A, 1999).
O professor Renato Janine Ribeiro
fez uma generosa menção ao meu nome no comentário ao livro (Mais!,
27/2). Pelo que entendi, ele discorda
da diferença que fiz, na "Introdução",
entre pragmatismo e neopragmatismo (A) e, também, discorda do subtítulo, em especial porque permanece
nele o nome "América" -penso que
Janine Ribeiro gostaria mais que eu
colocasse "Estados Unidos" em vez de
"América" (B).
De modo breve, tento justificar minhas opções.
A - Pragmatismo versus neopragmatismo
Centrei minha "Introdução" no tema da verdade em associação ao tema
do pós-modernismo. Disse que o deflacionismo no campo da verdade -
a idéia de que a verdade não deve ser
tratada de modo metafísico/epistemológico, mas sim de modo semântico- corresponde, no âmbito do pós-modernismo, à descrença nas metanarrativas (Lyotard), uma espécie de
"deflacionismo" ideológico e político.
Ora, todo esse debate só tem sentido
no campo neopragmático, pois no
campo propriamente dos velhos
pragmatistas (era pré-Quine e pré-Davidson) tudo isso não era tratado
nos moldes da filosofia analítica.
B - "Estados Unidos" versus "América"
O tipo de esquerda que Rorty defende deveria ter um papel específico, a
saber: sempre lembrar as pessoas de
que, quando os imigrantes vieram,
eles vieram para "fazer a América". E
o que era a "América" de que eles falavam? Ela era o sonho de liberdade, de
tolerância política e religiosa, de crescimento de estilos de vida diferentes,
de aumento da igualdade econômica
e crescimento da riqueza cultural e
moral -tudo o que fosse o contrário
dos males do Velho Continente.
Rorty acha que a esquerda deve ser a
consciência que chama a atenção de
todos para essa "América", que está
por ser realizada. Para Rorty, o sonho
americano não morreu, até porque
sua realização é tardia: só com o século 20 ele de fato começa: com o "New
Deal", o movimento dos direitos civis,
o feminismo, a campanha pelos direitos humanos etc. O livro é sobre a realização da "América", não dos "Estados Unidos".
Paulo Ghiraldelli Jr. é professor de filosofia na
Universidade Estadual Paulista (Unesp/Marília),
autor, entre outros, de "Richard Rorty" (Ed. Vozes).
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