São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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+ 3 questões Sobre publicidade do governo

1. Por que o governo vai gastar R$ 650 milhões em publicidade?
2. O orçamento já faz parte da campanha para 2002?
3. Essa verba não poderia ser mais bem empregada?
Chico Malfitani responde

1.
Certamente para melhorar a sua imagem. Mas o governo FHC conta com o apoio de grande parte da mídia. Teve esse apoio para se eleger e se reeleger. Então, se, mesmo com essa simpatia da mídia, ele pretende gastar R$ 650 milhões em publicidade, é porque a sua popularidade não vai bem. Não dá mais para esconder o desemprego, a concentração de renda, a recessão, a entrega do patrimônio nacional. Nem com o apoio da mídia. Por isso ele vai gastar tanto em publicidade. Mas, se a economia não voltar a crescer, se o desemprego e a miséria não diminuírem, não vai ter publicidade que resolva o problema da imagem do governo.

2.
Aparentemente sim. Mas, como já disse, não adianta torrar dinheiro com publicidade se o governo não está resolvendo as necessidades básicas da população. A propaganda funciona, é necessária e importante quando um governo realiza o que a população deseja. Se a situação econômica não mudar, o montante da verba publicitária não vai fazer o governo ganhar as eleições de 2002.

3.
Não sou contra o governo gastar dinheiro com publicidade. A população tem o direito de saber o que o governo está realizando. Grandes cidades, Estados... o país é grande demais para que o povo tenha toda a informação sobre as obras e as ações sociais do governo. Informação é o bem mais precioso de um verdadeiro cidadão. Mas sou a favor da publicidade necessária e verdadeira. Sou contra a propaganda enganosa, a mentira, a manipulação da consciência pública. Como ocorreu, por exemplo, com a propaganda de governo em uma das campanhas a favor das privatizações, quando se dizia que o dinheiro arrecadado iria para a saúde e para a educação. A campanha acabou, o governo privatizou e a saúde e a educação só pioraram. Se é para contar mentiras, é melhor investir na construção de escolas e hospitais. A população, os jornalistas e os publicitários que gostam da verdade agradeceriam muito.

Andrea Matarazzo responde

1.
O governo não gasta R$ 650 milhões em publicidade. Essa é a verba total a ser investida em 2000 por todas as empresas estatais -que têm orçamento próprio- e os ministérios e autarquias do governo federal.
Descontando-se a verba de publicidade de estatais -como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Correios- que concorrem no mercado com seus produtos (cheque especial, caderneta de poupança, sedex, óleo lubrificante, gasolina etc.), ministérios e autarquias terão para investir em comunicação -e não em publicidade- exatos R$ 95.667,03 (esta verba está em processo de aprovação no Congresso), que representam apenas 0,01% da receita prevista para ser arrecadada neste ano pelo governo.
É tido como normal pelo mercado brasileiro investimento em publicidade de 1% a 3% do faturamento ou receita de uma empresa. O investimento governamental corresponde a um centésimo desse valor.

2.
Em termos percentuais, o investimento do governo federal em publicidade e comunicação continua o mesmo. Aumentou em números absolutos porque está previsto aumento de receita para este ano. Isso faz parte não de uma suposta campanha de 2002, mas sim do dia-a-dia do governo federal, cuja preocupação central é melhorar a qualidade de vida de todos os brasileiros, em 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005...

3.
Empregar 0,01% da receita em comunicação é o mínimo que qualquer nação democrática necessita para manter a população bem informada. São recursos muito bem empregados porque informam os cidadãos sobre os perigos da Aids, sobre a necessidade de vacinação, sobre a distribuição de livros escolares, convocação de professores, médicos, publicação de atas e editais e outros serviços que precisam ser conhecidos, para sua eficiência poder ser cobrada e melhorar cada vez mais.

QUEM SÃO

Andrea Matarazzo
É ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência do governo Fernando Henrique Cardoso.

Chico Malfitani
É jornalista e publicitário. Coordenou diversas campanhas eleitorais do PT, PDT e PSB, como a de Eduardo Suplicy em 85 e Francisco Rossi em 94 e 98. Foi secretário de comunicação de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo entre 90 e 92.



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