São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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"Ponta de Lança"

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Oswald de Andrade [1890-1954], na Segunda Guerra, jornalista atacante de ponta, de sua trincheira vai lançando flechas envenenadas de amor-humor, dizimando exércitos de unanimidades, quando de repente, num golpe suave como um beijo nos "chato-boys", "esses meninos que cultivam o teatro de câmera", seus musos, escreveu seu manifesto de teatro de estádio. Já tinha escrito sua trilogia de obras primas -"O Rei da Vela", "O Homem e o Cavalo", "A Morta"-, consideradas imontáveis. Não havia instrumentos culturais no provincianismo teatral da época para outro diagnóstico; Oswald os trouxe, os imprescindíveis, para a sua própria compreensão, no meio de seu campo de batalha.
Ano de 1943, ano da epifania de Nelson Rodrigues com "O Vestido de Noiva". Naquele ano, Oswald então totalmente invisível, fora de cena, em sua obscura trincheira escrevia o até hoje desconhecido "Do Teatro Que É Bom". Devorando o construtivismo russo de Mehyerhold, o subtexto dionisíaco deixado pelo "gênio" de Nietzsche em toda a sua obra, temperando com a sua mestiçagem antropófaga, trouxe os instrumentos por escrito, de um teatro "para a paixão do povo". Na ponta-de-lança, num terreno devastado pela guerra, em meio a fuzilamentos maravilhosos, encontra-se um pequeno tratado da arte da felicidade guerreira, do teatro de pequenas multidões construtoras de civilizações.


José Celso Martinez Corrêa é ator, diretor e co-fundador da companhia teatral Oficina Uzyna Uzona. Realizou montagens como "Roda Viva", "O Rei da Vela", "As Bacantes", "Hamlet" e "Os Sertões".

A obra
"Ponta de Lança", de Oswald de Andrade. 208 págs., R$ 28,00. Ed. Globo (tel. 0/xx/11/3457-1545).


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