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filosofia
POR VLADIMIR SAFATLE
Música silenciosa
Após 70 anos de implantação
universitária da filosofia em solo
nacional, é evidente a consolidação bem-sucedida de múltiplas linhas de pesquisa. No entanto não
é possível deixar de lembrar uma
ausência. Ela diz respeito a um
programa rico em questões ao
longo da história das idéias: a filosofia da música. Basta ver a pobreza bibliográfica disponível ao leitor brasileiro.
Quase toda a imensa obra de
Adorno dedicada à música continua sem tradução. O mesmo destino recebeu o "Dicionário de Música", de Rousseau, o "Compêndio
Musical", de Descartes, os textos
de Tieck, E.T.A. Hoffmann, Schlegel e livros centrais de Carl Dahlhaus como "A Idéia da Música
Absoluta".
Tal ausência é importante, já que
a história das formas musicais é,
na verdade, um setor privilegiado,
mas quase esquecido, da história
da razão. É isso que a filosofia da
música busca nos mostrar, ou seja,
como os problemas internos ao
desenvolvimento da forma musical são fundamentalmente problemas de critérios de racionalidade e
de processos de racionalização.
Ela nos indica como a forma
musical visa a resolver questões ligadas à relação entre o pensamento e a natureza, à determinação do
estatuto do acaso e da necessidade, aos modos de intuição do tempo, entre outros.
Como se a filosofia nos lembrasse que a razão sempre encontra, na
música, traços de um caminho
que ela mesma construiu.
Vladimir Safatle é professor de filosofia
na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e organizador de
"Um Limite Tenso - Lacan entre a Filosofia e a Psicanálise" (ed. Unesp).
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