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cinema
POR ISMAIL XAVIER
Teoria da conspiração
Nos estudos de cinema, o avanço
técnico tem ensejado novas direções de pesquisa, e não é de hoje
que, no Brasil, enfoques mais específicos convivem com o trabalho
de historiadores e cientistas sociais
na lida com o "novo objeto", enquanto este encontra também lugar no campo da comunicação. Os
teóricos de cinema, por sua vez, o
conectam à literatura, às artes visuais, ao teatro, à história e à filosofia, cientes de que se vive um
processo de expansão do campo
das mídias audiovisuais que exige
uma reconceituação de cada um
de seus segmentos.
O campo é instável e há respeito
pela diversidade, principalmente
depois que, nos anos 80, se diagnosticou uma forte "crise da teoria" (leia-se impasses do projeto de
passagem da ideologia à ciência
gerado na França dos anos 70: a
teoria do "dispositivo", em que a
semiologia, a psicanálise e o marxismo de Louis Althusser se condensaram ou se precipitaram).
Inviabilizada a unificação do
campo, temos o pluralismo de recortes que ora ajusta a pesquisa
feita no Brasil ao campo da comunicação de massa e aos "estudos
culturais" de inspiração anglo-americana, ora ao que, de imediato, é o campo da "não-comunicação", quando a dimensão estética
vem ao centro e há empenho especial nos problemas de interpretação das formas, com ênfase na
análise de filmes brasileiros.
A teoria do cinema passa, pois,
por uma reacomodação de terreno
e explora suas conexões com outras disciplinas. Avanços? Sim;
problemas? Também, pois o trabalho interdisciplinar, entre nós,
nem sempre torna efetivas as proclamações de sua introdução teórica. A convergência de métodos e
saberes se anuncia, mas logo se
dissolve em trabalhos que seguem
protocolos que não dão conta do
"novo objeto", quase sempre em
detrimento da dimensão estética.
Há muito por fazer nessa intersecção de enfoques e objetos; é o caminho. A título de lance preliminar,
vale resistir à química que modela o
trabalho acadêmico em "pílulas". A
lógica da produção ajustada às
"hard sciences" produz uma precipitação de resultados mais radical
do que a encontrada em outros países, e há trabalhos que não têm
chance de amadurecer ou cumprir
percursos que fariam a pesquisa se
articular a questões maiores, como
nos melhores exemplos da forma
ensaio. A velocidade forçada nos
pede formalizações (blindagem) do
campo teórico como rigorosa geometria (onde se perde a complexidade do objeto) ou reduz a pesquisa
empírica a uma organização de dados que tem o rosto do guarda-livros, desligada de uma problemática que lhe dê sentido.
Ismail Xavier é professor na Escola de Comunicação e Artes da USP, crítico de cinema e autor de "O Cinema Brasileiro Moderno" (Paz e Terra).
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