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A misteriosa briga entre Wittgenstein e Popper
da Redação
Dois jornalistas ingleses resolveram
descobrir um pouco mais sobre um
dos mais misteriosos debates filosóficos
do século 20. O resultado é "Wittgenstein's Poker" (O Tiçoeiro de Wittgenstein, David Edmons e John Eidinow, 268
págs., Faber and Faber).
O livro recém-lançado tenta retraçar os
principais acontecimentos dos dez minutos da discussão entre os austríacos Ludwig Wittgenstein e Karl Popper, em
25 de outubro de 1946, na Inglaterra.
Naquela noite, uma sexta-feira, o autor
de "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos"
fora convidado para falar no Cambridge
Moral Science Club, onde se reuniam semanalmente professores e estudantes da universidade. O título da palestra de
Popper era "Existem Temas Filosóficos?". Entre as cerca de 30 pessoas presentes ao encontro, das quais menos de
dez estão ainda vivas, também estava
Bertrand Russell.
Pouco se sabe sobre o que aconteceu. A
boa biografia de Wittgenstein escrita por
Ray Monk ("O Dever do Gênio", Companhia das Letras), por exemplo, não
traz mais de dois parágrafos sobre o assunto (além de citar a data errada, 26, em
vez de 25 de outubro). Diz ele que o ocorrido se perdeu "nas brumas das lendas
surgidas em torno do incidente".
Basicamente, a palestra fora planejada
por Popper, um pensador em grande ascensão na época, para provocar Wittgenstein, a estrela maior de Cambridge,
pois este supostamente rejeitaria com vigor a idéia da existência de temas filosóficos. A intenção teve o resultado esperado e ambos discutiram.
É aí que surgem as variações.
Em sua autobiografia, "Unended
Quest" (Busca Inacabada, 1974), Popper
afirma que, durante a discussão, apresentou uma série de verdadeiros problemas filosóficos, todos recusados por
Wittgenstein. Até que foi desafiado a dar
um exemplo de regra moral pelo adversário, que estivera até então mexendo nervosamente em um atiçador de fogo.
Ao que ele teria respondido: "Não ameaçar conferencistas visitantes com tiçoeiros". Wittgenstein, em seguida, atiraria o instrumento no chão e sairia pela porta
raivoso. A partir das entrevistas com os
participantes do encontro ainda vivos, os
dois jornalistas propõem outras possibilidades. Wittgenstein teria saído antes da
resposta de Popper (como, aliás, era seu
costume durante essas reuniões, que logo o deixavam muito entediado); ou
Popper teria colocado um aspecto totalmente supérfluo da questão, o tiçoeiro,
em destaque.
De qualquer modo, o livro não resolve
o mistério, apesar de acrescentar uma ou
outra peça ao quebra-cabeça. Ele serve,
no entanto, como uma boa introdução
ao clima intelectual da época do pós-guerra e a algumas das idéias de seus dois
protagonistas, além de, é claro, colocar a
famosa briga daquela noite novamente
em evidência.
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