São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
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DIÁLOGOS IMPERTINENTES

A resistência do planeta

MARIO SERGIO CORTELLA
especial para a Folha

Trinta anos após a nossa chegada à Lua (grande passo para a humanidade?), no momento em que o Brasil continua em foco como o vilão internacional (será?) dos desastres ambientais e 15 dias antes da data na qual se cumpriria a previsão nostradâmica (fez mesmo?) da destruição do nosso mundo, rondamos, na noite de 27 de julho, durante duas horas, numa conversa sobre "O Planeta", tendo como dialogadores Fernando Gabeira, jornalista e deputado federal (PV/RJ), e Paulo Vanzolini, zoólogo e compositor.
Sexto programa da série 99 dos "Diálogos Impertinentes", promovido em conjunto pela Folha, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Sesc (Serviço Social do Comércio), "O Planeta" aconteceu no teatro do Sesc/Pompéia, na capital paulista, com transmissão nacional ao vivo pela TV PUC (por meio dos sistemas de TV a cabo e parabólicas), e teve, ainda, a mediação de Nelson Ascher, articulista da Folha.
Começamos nossa ronda pela análise de uma suposição: seria a Terra um organismo vivo? Paulo Vanzolini foi enfático: "Isso não existe; isso é poesia. Uma poesia bonita, mas não passa de poesia". Fernando Gabeira disse, então: "Já vi não só a formulação dessa teoria, assim como as contestações científicas; não tenho condições de arbitrar o debate. A sensação que tenho é que é uma metáfora, mas, independentemente de ser ou não viva, existem seres vivos no planeta e precisam ser preservados". O zoólogo completou: "É uma analogia, e analogia não é pensamento científico. Agora, que existe uma interdependência de todos os seres vivos e da Terra com o substrato, isso não há dúvida nem é novidade".
Ao ser questionado se a propalada desertificação da Amazônia não seria um mito, Vanzolini não vacilou: "Não há mito nenhum; é sério demais. Antes tínhamos um fantasma -o machado, o fósforo-, agora, temos o trator e a moto-serra dentro da mata. A agressão tecnológica moderna é tremenda. Tinha de trancar a Amazônia, perder a chave e não deixar entrar mais ninguém".
Transgênicos, biopirataria, recursos esgotáveis, camada de ozônio, poluição, consumo de drogas, extinção de espécies, exploração dos oceanos; tudo isso veio à tona. No entanto, nenhum dos dialogadores deixou naufragar a esperança de preservar o paraíso compartilhado com outros seres.
Nem o sonho (nem o planeta) acabou...


Mario Sergio Cortella é professor do departamento de teologia e ciências da religião da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/Cortez).

O evento:
"Diálogos Impertinentes" apresenta na próxima terça, às 22h, o debate "A Pátria", no Teatro de Arena do Tuca (r. Monte Alegre, 1.024), em SP. Participam o advogado Fábio Konder Comparato e o economista João Sayad. Os convites estão disponíveis na portaria da Folha (al. Barão de Limeira, 425) ou nas bilheterias do Tuca e do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93).


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