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DIÁLOGOS IMPERTINENTES
A resistência do planeta
MARIO SERGIO CORTELLA
especial para a Folha
Trinta anos após a nossa chegada à Lua (grande passo para a humanidade?), no momento em que
o Brasil continua em foco como o
vilão internacional (será?) dos desastres ambientais e 15 dias antes
da data na qual se cumpriria a
previsão nostradâmica (fez mesmo?) da destruição do nosso
mundo, rondamos, na noite de 27
de julho, durante duas horas, numa conversa sobre "O Planeta",
tendo como dialogadores Fernando Gabeira, jornalista e deputado federal (PV/RJ), e Paulo
Vanzolini, zoólogo e compositor.
Sexto programa da série 99 dos
"Diálogos Impertinentes", promovido em conjunto pela Folha,
Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo e Sesc (Serviço Social
do Comércio), "O Planeta" aconteceu no teatro do Sesc/Pompéia,
na capital paulista, com transmissão nacional ao vivo pela TV PUC
(por meio dos sistemas de TV a
cabo e parabólicas), e teve, ainda,
a mediação de Nelson Ascher, articulista da Folha.
Começamos nossa ronda pela
análise de uma suposição: seria a
Terra um organismo vivo? Paulo
Vanzolini foi enfático: "Isso não
existe; isso é poesia. Uma poesia
bonita, mas não passa de poesia".
Fernando Gabeira disse, então:
"Já vi não só a formulação dessa
teoria, assim como as contestações científicas; não tenho condições de arbitrar o debate. A sensação que tenho é que é uma metáfora, mas, independentemente de
ser ou não viva, existem seres vivos no planeta e precisam ser preservados". O zoólogo completou:
"É uma analogia, e analogia não é
pensamento científico. Agora,
que existe uma interdependência
de todos os seres vivos e da Terra
com o substrato, isso não há dúvida nem é novidade".
Ao ser questionado se a propalada desertificação da Amazônia
não seria um mito, Vanzolini não
vacilou: "Não há mito nenhum; é
sério demais. Antes tínhamos um
fantasma -o machado, o fósforo-, agora, temos o trator e a
moto-serra dentro da mata. A
agressão tecnológica moderna é
tremenda. Tinha de trancar a
Amazônia, perder a chave e não
deixar entrar mais ninguém".
Transgênicos, biopirataria, recursos esgotáveis, camada de ozônio, poluição, consumo de drogas, extinção de espécies, exploração dos oceanos; tudo isso veio à
tona. No entanto, nenhum dos
dialogadores deixou naufragar a
esperança de preservar o paraíso
compartilhado com outros seres.
Nem o sonho (nem o planeta)
acabou...
Mario Sergio Cortella é professor do departamento de teologia e ciências da religião da
PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/Cortez).
O evento:
"Diálogos Impertinentes" apresenta na
próxima terça, às 22h, o debate "A Pátria", no Teatro de Arena do Tuca (r. Monte Alegre, 1.024), em SP. Participam o advogado Fábio Konder Comparato e o
economista João Sayad. Os convites estão disponíveis na portaria da Folha (al.
Barão de Limeira, 425) ou nas bilheterias
do Tuca e do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93).
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