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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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REUNINDO DOCUMENTOS INÉDITOS, TRÊS BIOGRAFIAS QUE ESTÃO SENDO PUBLICADAS NA ALEMANHA DEFENDEM UMA NOVA INTERPRETAÇÃO DA OBRA DO FILÓSOFO ALEMÃO E AFIRMAM QUE SEU ANTIAMERICANISMO É UM MITO

A IDENTIDADE NEGATIVA

Reprodução
Adorno e sua mulher, Gretel, em foto de 1964


Hanna Leitgeb
René Aguigah
da "Literaturen"

Os comentários sobre Theodor W. Adorno enchem bibliotecas inteiras. É surpreendente que até o momento não tenha havido textos biográficos significativos acerca do grande intelectual, filósofo e sociólogo alemão do século 20. Só agora isso se altera, por ocasião do centésimo ano de seu nascimento, em 11 de setembro de 2003, mais de 30 anos após sua morte. Dentre os numerosos autores que neste ano publicam livros sobre Adorno, a revista "Literaturen" convidou três biógrafos para uma conversa-oficina sobre o estado de seu trabalho. O professor de sociologia em Oldenburg Stefan Müller-Doohm (1942) começou há pouco menos de dez anos a se ocupar do tema; sua obra "Adorno - Eine Biographie" [1.032 págs., 29,90 euros] está saindo pela ed. Suhrkamp. Já o jornalista do "Franfurter Allgemeine Zeitung" Lorenz Jäger (1951) está lançando "Adorno - Eine Politische Biographie" [320 págs., 22,90 euros, Deutsche Verlags-Anstalt], um ensaio monográfico. E o terceiro biógrafo é Reinhard Pabst (1963), que está publicando "Theodor W. Adorno - Kindheit in Amorbach" [252 págs., 9,50 euros, ed. Insel]. Pabst se aproxima do objeto de maneira empírico-positivista e em detalhe: ele busca os vestígios da infância de Adorno em Amorbach -a cidadezinha [no distrito rural] de Odenwald [no Estado alemão de Hessen] na qual o pequeno Teddie passou muito tempo durante os meses de verão.

Sr. Pabst, como o sr. tornaria palatável a um leitor que se interessa pela obra de Adorno a idéia de vir a saber também alguma coisa acerca da infância em Odenwald, a qual o senhor pesquisa para o seu livro?
Reinhard Pabst - Meu próprio interesse por Adorno esteve desde o início direcionado para a vida. Muito do que existe nos arquivos a respeito de sua biografia não concorda com o que até agora se encontra nos livros quanto a isso. Quando me deparei com o fato de que Adorno teve um irmão mais velho nascido morto -que ele, portanto, não foi realmente filho único, só cresceu como filho único-, minha curiosidade foi despertada. Assim eu cheguei a Amorbach, em Odenwald, o lugar em que ele passou uma grande parte de sua infância e sobre o qual ele escreveu, em 1966, um dos seus texto mais pessoais. Sempre que Adorno se refere à infância, entra em jogo uma lembrança de Amorbach. Fui no encalço dessas lembranças de infância, e isso literalmente: viajando para Amorbach, falando com testemunhas da época, buscando e encontrando cartas e imagens desconhecidas. Com os resultados dessa pesquisa, também sua obra se abriu para mim de uma maneira nova.

O sr. também foi no encalço de Adorno para escrever sua biografia, sr. Jäger?
Lorenz Jäger - Não! Em relação ao texto "Amorbach", para mim, como biógrafo, são importantes duas coisas diferentes. Em primeiro lugar, desenvolve-se nele uma certa imagem de si mesmo. O que Adorno descobre é em parte Amorbach, mas é também a paisagem de Wagner: a montanha se chama Wolkmann, há uma barca que lembra Hagen, e há o pintor Rossmann, que tem relações diretas com Bayreuth. É a história de infância do homem que mais tarde escreverá o "Ensaio sobre Wagner". É a construção de uma socialização bem-sucedida no mundo dos adultos e, de maneira ainda mais exata, no mundo da mãe, que, como se sabe, se o sr. Pabst não descobriu nesse meio tempo algo de contrário, havia cantado muito Wagner. E a segunda coisa é que na "Teoria Estética", nos trechos sobre o belo natural, Adorno defende a tese da fatalidade da dominação da natureza. Ele vê que na estética idealista a questão do belo natural é recalcada, e ele diz que seria preciso conduzir um processo de revisão acerca do belo natural. Esse é o último Adorno, e é nesse contexto que se deve ler também as descrições de paisagens como as de Amorbach ou as de Sils Maria.

Como o sr. relaciona Adorno e Amorbach, obra e vida, sr. Müller-Doohm?
Stefan Müller-Doohm - Em Adorno é preciso fazer mediações ao longo dos extremos. Para isso se apresenta o conceito de experiência, que é central no pensamento de Adorno. E uma parte da experiência vivida é a infância. Ele não perdeu mais o que ele vivenciou em Amorbach. Ali surgiu um sentimento de pátria. Por que o exílio posterior foi para ele algo traumático? Porque essa pátria, enquanto forma um contexto cultural de experiência, lhe parecia perdida. Não se pode avaliar em toda a sua grandeza as experiências nesse ou em outros lugares, como em Viena e Paris, mas também em Frankfurt. São experiências reais, que inspiraram o conceito enfático de experiência, por exemplo na "Dialética Negativa".

Portanto, se pode explicar a obra de Adorno a partir de sua vida?
Müller-Doohm -
Por um lado eu diria que a obra de Adorno é o livro aberto de sua vida. Esta emerge ali como subtexto. Mesmo em um livro filosófico abstrato como "Dialética Negativa" é possível encontrar lembranças daqueles lugares que ele estimou, inclusive nomes grotescos como "Schweinstiege" [escada do porco], em Frankfurt. Tais lembranças servem para tornar plausíveis correlações filosóficas complexas. Por outro lado o biógrafo precisa levar a sério a própria tese de Adorno, segundo a qual se devem separar estritamente vida e obra. Certamente se encontram em toda a parte da obra partículas de reminiscências autobiográficas, mas, para escrever a biografia, é preciso recorrer, por exemplo, à enorme e extensa correspondência ou às declarações de testemunhas da época.
Jäger - Eu vou por uma outra pista: não é a vida que determina a obra, mas a obra que antecipa a vida. Eu creio que todo autor procura justificar a constelação de seu nascimento e projeta então a cena de sua morte, antecipando-a. Tratando-se de Adorno, avançamos muito quando examinamos o ano de nascimento [1903]. Como se constitui a modernidade naquele ano? Schoenberg conclui suas "Gurrelieder", há as primeiras composições de Alban Berg e Anton von Webern, a querela do revisionismo na social-democracia (luta de classes ou não), na Rússia a separação de bolcheviques e mencheviques, na América a empresa Ford, com um modelo de capitalismo inteiramente novo... Poder-se-ia dizer que no ano de 1903 a modernidade confere a si mesma uma nova figura, com a qual se afasta do impressionismo. Um segunda tese possível seria a de que Adorno busca formar, com o foco centrado nessa constelação, uma teoria na qual isso tudo estaria contido -o marxismo redimido, as novas abordagens de Schoenberg. Em 1969 ele morre. Exatamente nesse momento o potencial normativo, para o qual Adorno havia se preparado, se encontrava consumido. Essa modernidade havia se imposto e foi ultrapassada por uma segunda, terceira, quarta ondas. Warhol e a "pop art" eram as estrelas da hora. Ou seja, eu não vejo biografias como meras barafundas na contingência, mas -e isso é talvez uma pré-decisão fundamental sobre a qual se discute de maneira árdua- como nexos de sentido de extrema complexidade.
Müller-Doohm - A título de interpretação, isso é interessante, mas na minha opinião é um caminho demasiado especulativo. O biógrafo é obrigado a se ater inicialmente ao corpo das fontes: em primeiro lugar, à obra, em segundo, à vida -no caso de Adorno, por exemplo, ao número enorme de cartas, que infelizmente não são todas acessíveis- e, em terceiro, ao tempo histórico. Essas três dimensões têm de ser referidas umas às outras, têm de ser entendidas como campos de força no sentido de Adorno, e a partir daí se pode reconstruir a biografia. Em se tratando de Adorno, é preciso considerar que ele começou muito cedo, com 30 anos no mais tardar, a viver inteiramente para a sua obra. Ele quis criar alguma coisa que pudesse ser colocada na balança, como ele próprio dizia. Nesse aspecto, é importante desenvolver a biografia com o olhar voltado para obra, do primeiro trabalho sobre Husserl até a "Teoria Estética", não esquecendo as numerosas composições musicais.

Sua mãe, Maria Calvelli-Adorno, e sua tia Agathe, a "segunda mãe", são mencionadas por Adorno de maneira frequente e amorosa. Por que o pai, o comerciante de vinhos Oscar Wiesengrund, parece tão ausente?
Müller-Doohm - O pai não foi de modo algum ausente. Oscar Wiesengrund representa, ao lado do elemento burguês de formação constituído pelas duas mães, o elemento burguês no sentido econômico. Ele sustentou economicamente a família e foi um homem extraordinariamente generoso, que aceitou todas as manias de seu querido filho Teddie. O próprio Adorno cultivou durante sua vida uma relação íntima e cordial com seus pais.
Jäger - E o pai representa a atmosfera cosmopolita da casa paterna. Ele havia vivido na Inglaterra.
Pabst - Um outro aspecto é o etos do trabalho do pai, que era de enorme eficiência no seu negócio em Frankfurt. Isso Adorno interiorizou de tal modo que se pode dizer que morreu de tanto trabalhar. Não se encontra quase nenhuma carta em que ele não reclame de trabalhar como um animal. E ainda com mais de 40 anos ele banca o "filho fiel" nas cartas aos pais, escrevendo devidamente todas as vezes, ao longo de muitas páginas, o quanto ele era diligente.

Seria exagerado, com vista a esse etos do trabalho, caracterizar Adorno como protestante? E como isso se relaciona com sua identidade judia?
Jäger - Tudo o que em Adorno tem a ver com religião me parece possuir em alta medida o caráter de um desempenho de papel. Isso se aplica à adoção do papel de intelectual judeu no último Adorno. O ponto trágico é o ano de 1933, quando ele perde o direito de lecionar, pois passa a ser considerado judeu, e escreve a Alban Berg que ele fora até a Liga Cultural Judaica e foi recusado, já que era de confissão cristã.


Como alguém de sensibilidade tão burguesa como Adorno chegou a se prescrever uma ideologia revolucionária?"


Portanto Adorno se torna judeu no momento em que era percebido como judeu? Pabst - Sim, mas isso começa mais cedo. Ele foi batizado católico -o que até hoje tampouco se sabia; dizia-se sempre que fora batizado protestante. Em Taunus o pequeno Teddie escolhia as "árvores de Natal", participava da procissão de Corpus Christi e espalhava rosas para o "querido pequeno Jesus". No secundário frequentou aulas de religião protestante. Há, no entanto, uma nota não publicada de Adorno segundo a qual ele, apesar disso, era considerado judeu entre os camaradas da escola. No secundário ele se viu pela primeira vez confrontado com o anti-semitismo. E, na fase em que ele iria vivenciar esses primeiros ataques, ele se deixa confirmar. O que ele mais tarde designa como trauma infantil da pertença problemática devia finalmente desaparecer. Ele não queria mais ser considerado judeu, ele queria pertencer à maioria dos protestantes.
Müller-Doohm - Eu vejo isso de modo diferente. É bem típico de Adorno justamente o "estar entre". Sua posição é aquela na terra de ninguém: nem puramente protestante nem puramente católico nem puramente judeu. Mesmo aqui ele se move no campo das forças opostas. Ele não adota para si uma única postura ou visão de mundo.

Quando Hannah Arendt se viu exposta às hostilidades anti-semitas, ela politizou essa experiência e aceitou a "existência de pária" como judia. Como classificam a reação de Adorno em comparação com a de Arendt?
Jäger - O que vem a ser o elemento judaico? É uma história de sofrimento no exílio, na perseguição e na profecia mobilizada contra ele. Se se crê em Max Weber, o elemento judaico é também a utopia de uma ordem social mais justa neste mundo. Como atmosfera, isso está presente na obra de Adorno, ainda que não de maneira tética ou confessional.

A diferença entre Amorbach e Paris é menor que a existente entre Paris e Nova York, escreve Adorno em 1966. Ele não se integrou nem um pouco no exílio americano? Jäger - Há na "Minima Moralia" dois aforismos inicialmente bastante contraditórios a respeito da paisagem americana. No primeiro, Adorno lamenta que todos os caminhos são iguais. Nota-se que no fundo o modelo é a Europa Central, em suma, Amorbach. E o outro é um aforismo muito positivo, no qual ele registra que a paisagem americana possui critérios de medida diferentes. Mas fundamental é o choque com a comercialização da cultura na América. O capítulo sobre a "indústria cultural" na "Dialética do Esclarecimento" é a boa e velha Europa.
Müller-Doohm - Apesar disso, há na América um elemento fascinante, quer dizer, uma democracia viva. A avaliação de que Adorno teria sido antiamericano é um mito. Quando Horkheimer escreve em 1938 que ele poderia vir ao instituto, em Nova York, ele partiu de viagem com sua mulher, Gretel, sem pensar duas vezes. Não obstante, em suas "Reflexões a partir da Vida Danificada", Adorno chega a uma visão de todo sombria. Independentemente disso, ele leva uma vida pessoalmente satisfatória em Nova York e mais tarde em Los Angeles, sendo extremamente produtivo em termos científicos.

Essa percepção disparatada dos EUA pode ser resolvida? Müller-Doohm - Em minha biografia eu coloquei um determinado acento. Tento mostrar que as "Reflexões" se deixam entender em vista do horror da época e que na "Minima Moralia", que também foi escrita na América, Adorno reflete da perspectiva do intelectual suas experiências e vivências pessoais, por exemplo sua relação altamente complicada com as mulheres. Ele precisava colocar no papel suas experiências dolorosas, mas como teórico da sociedade.
Pabst - Em toda a terceira parte da "Minima Moralia", Adorno não constrói um sistema de camuflagem, mas fala incessantemente de si mesmo. Quando se conhecem os panos de fundo reais, quando se sabe alguma coisa acerca das damas que cativaram Adorno, a questão de até que ponto obra e vida se relacionam entre si recebe uma dimensão totalmente nova. Só depois de alcançado o estágio atual da pesquisa se torna claro que Adorno, como nenhum outro filósofo no século 20, torna público o privado na terceira parte da "Minima Moralia".

A mulher de Adorno, a química Margarete Karplus [Gretel], preparava em regra os manuscritos dele, mesmo os que tinham manifestamente por objeto "affaires" de seu marido. Como se pode formular a relação entre os dois? Müller-Doohm - Ambos se conheceram em 1922, casaram-se em setembro de 1937. E Gretel se coloca muito rapidamente -e o declara também desse modo- a serviço da obra de seu marido. Ela abandona sua própria carreira e vende a fábrica de couro de sua família em Berlim. Sua cooperação se configura da seguinte maneira. Ele criava rubricas, com base nas quais citava textos mais longos. Gretel estenografava esses ditados, transcrevia-os na máquina de escrever e daí aprontava os manuscritos, os quais Adorno reelaborava em vários passos de trabalho. Repetidas vezes os textos redigidos precisavam ser reescritos por Gretel. Mas seria falso pensar que ela não se divertia. Gretel sabia o que estava fazendo, e havia uma relação estreita, simbiótica, entre os dois. Em Frankfurt ela trabalhou desde os anos 50 no Instituto [de Pesquisa Social], cuidando do espólio de Walter Benjamin e tendo uma relação pessoal com grande parte dos colaboradores do instituto.
Jäger - Muitas relações de Adorno não teriam sobrevivido sem Gretel. Basta pensar por exemplo na relação com Benjamin. Na casa de Gretel ele pode narrar o delírio com o ópio em Ibiza e não tem que temer logo que lhe seja contado como ele poderia ter deduzido isso melhor de maneira hegeliana.

Ela funcionava portanto como o aspecto humano do marido, de um lado, como máquina de escrever, de outro -as duas coisas formam o papel tradicional das mulheres dos assim chamados heróis do espírito. Como os srs. avaliam a influência dela sobre os conteúdos dos livros? Müller-Doohm - Às vezes ela escrevia nos manuscritos: "Atenção, TWA!" ou "Teddismo!". Mas isso é tudo.
Pabst - É que simplesmente se sabe muito pouco sobre ela. Gostaria muito de ler a correspondência entre Theodor e Gretel, se chegássemos a ela. Mas, como a situação do material no momento é delicada, eu seria muito cauteloso na formulação de frases definitivas a respeito de Gretel. Parece-me estranho que ela deva ter sido somente a empregada abnegada da obra do marido; também que ela deva ter tolerado em silêncio que ele tivesse todos os "affaires" possíveis. Há de Adorno anotações de sonhos, nos quais ele falou realmente em texto claro: sonhos eróticos com outras mulheres, cujos nomes são inclusive mencionados. E que Gretel Adorno datilografou.
Müller-Doohm - Eu perguntei a testemunhas da época como ela teria conseguido lidar com esses muitos "affaires". Amiúde ela aceitou essas mulheres como suas filhas. E eventualmente tampouco se pode superestimar o momento erótico em Adorno. As relações com mulheres admiradas eram às vezes de tipo platônico. Ou tudo se passava como Adorno havia dito de Alban Berg: ele precisava do anseio amoroso como fonte de inspiração.
Não é um momento bastante filistino em Adorno?
Jäger - Talvez isso tenha sido um problema fundamental dele. Inclusive se poderia perguntar: como alguém de sensibilidade tão burguesa como ele chegou a se prescrever uma ideologia revolucionária? Enquanto homem empírico Adorno não pode fazer jus à teoria da revolução em que ele crê. Por isso há essa estação intermediária da estética. A estética tem parte na utopia, o artístico aponta para esse reino. De outro lado, isso só pode ser cultivado e, de modo geral, entendido se se tem uma socialização burguesa funcionando: é preciso que haja um público capaz de ouvir para poder compreender Schoenberg.

Por que só agora surgem grandes textos biográficos sobre Adorno? Pabst - Essa é antes de tudo uma questão de fontes. O Arquivo Adorno, que guarda os manuscritos, as cartas e testemunhos de sua vida, por muito tempo não foi um arquivo dos mais acessíveis. Além disso me admira que até agora nada mais tenha acontecido. Tivesse alguém começado já 25 anos atrás a recolher documentos ou consultar testemunhas ainda vivas na época, hoje saberíamos decididamente mais.

Como os senhores resumiriam em poucas palavras o que suas biografias de Adorno pretendem mostrar em 2003?
Pabst - Meu livro ilustrado pretende mostrar em sua concretude as experiências marcantes da infância de Adorno, com fotos da época recém-descobertas e com fatos investigados de maneira nova. Jäger - Trata-se da descrição de uma figura passada do pensamento. Adorno apresentou o papel do intelectual em versão destacada. Mas o intelectual como robô de olhar penetrante, armado de marxismo e psicanálise, que sabe imediatamente que complexos autoritários possui qualquer um que tenha opinião diferente da dele, é uma coisa do passado. E Adorno só pode ser concebido como intelectual, não como filósofo ou sociólogo. Com ele temos à nossa frente o intelectual do século 20 em sua versão mais esplêndida e, ao mesmo tempo, simplesmente desaparecida.
Müller-Doohm - Dificilmente eu pretenderia para mim um patos da distância. Para mim Adorno foi muito importante como pessoa e pensador, com quem me vi pessoalmente confrontado como aluno e estudante. Foi da maior importância para meu próprio desenvolvimento intelectual. A obra de Adorno contém ainda hoje potencial de estímulo. Assim se podem extrair ainda da teoria social aspectos para explicar as dinâmicas do mundo globalizado; a análise da indústria cultural, com vista a seu conteúdo de prognóstico, só hoje se torna verdadeira, ante o pano de fundo da comercialização progressiva de nosso sistema midiático; a teoria estética contém discernimentos que são, hoje como ontem, relevantes para a explicação da arte de vanguarda. A isso se acrescentaria talvez a teoria do fim do indivíduo -em suma, muitos teóricos do presente se referem a Adorno sem que o saibam sempre ou sem citá-lo expressamente. Portanto, ele continua atual.
Onde encomendar
Livros em alemão podem ser encomendados, em São Paulo, na livraria Bücherstube (r. Bernardino de Campos, 215, Brooklin, CEP 04620-001, tel. 0/xx/11/ 5044-3735).

Tradução de Luiz Repa.


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