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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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FORMA ENSAIO

Adorno, exacerbando uma tendência latente na primeira formulação da teoria crítica, descarta o proletariado ou o partido como vetores de negatividade. A crítica da sociedade desloca-se do interior da produção capitalista para a análise de seus efeitos, em especial da inversão entre meios e fins: o predomínio do aparato econômico que condiciona a consciência e o inconsciente dos indivíduos. É assim, como configuração reificada, como esfera desprovida de autonomia e substância própria, que a subjetividade se torna o objeto prioritário da investigação.
Esse direcionamento da análise para o singular, o transitório, o não-conceitual demanda a retificação da atividade conceitual (desprendida da ilusão de uma subjetividade constitutiva).
Além de sua participação na vanguarda modernista, a tese de que a exposição não é indiferente à teoria permite compreender o caráter peculiar do estilo e dos textos de Adorno, condensado na determinação "forma ensaio". Sua insurreição contra a totalidade sistêmica e a filosofia da identidade impõe, por um lado, o uso de parataxes, o abuso de tropos e quiasmos, a construção de constelações que associam de forma brusca o teor coisal e o especulativo. Mas também, em outra vertente, explica sua preferência pela "forma fragmento", sua predileção por aforismos, notas, verbetes, estudos, palestras, artigos, pequenos escritos, modelos críticos.
(RICARDO MUSSE)


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