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Rodolfo Landim

Os desafios da Guanabara

É imperativo sanear a baía pelas consequências nocivas que sua poluição traz à saúde pública

O mais famoso cartão postal do Brasil é provavelmente a vista da baía de Guanabara (BG), tendo o Pão de Açúcar ao fundo. Mas essa joia da natureza, de fundamental importância não somente para a vida daquela cidade, como também para toda a economia dos municípios que a circundam, traz consigo inúmeros desafios para o crescimento sustentável da região.

Os primeiros registros que trago na memória sobre a BG são os melhores possíveis. Ainda pequeno, ouvia meu pai contar as histórias de sua adolescência nos anos 1930 passadas na ilha de Paquetá, onde ele nascera. Nelas estavam sempre presentes os banhos de mar nas praias da ilha e as pescarias nas águas calmas e limpas da baía.

Anos mais tarde, atividades profissionais me aproximaram da problemática que envolvia o desenvolvimento sustentável da região, tema pelo qual nunca mais perdi o interesse. A primeira, ainda como estagiário de engenharia, foi participar de um projeto de macrodrenagem da região de São Gonçalo.

Ali, conheci de perto os problemas causados pelo crescimento desordenado que ocorria após a construção da ponte Rio-Niterói e pela falta de infraestrutura de saneamento local. Posteriormente, em 2001, estive à frente do Plano de Ação Emergencial implantado após o grande vazamento ocorrido em um duto ligado à refinaria Duque de Caxias, no município limítrofe à BG.

Vislumbra-se para um futuro próximo um enorme crescimento concentrado nas áreas que circundam a BG. A construção de um novo polo de refino e petroquímica em Itaboraí, a forte retomada da indústria naval, que sempre foi uma vocação do Rio de Janeiro, e a necessidade crescente de bases de apoio logístico para atender às atividades "offshore", tudo isso sem falar do aquecimento da economia local provocado pelos efeitos dos preparativos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, são realidades e já vêm causando mudanças consideráveis no padrão de uso da BG.

Os números do tráfego de embarcações nos últimos três anos falam por si. Enquanto em 2009 tivemos 1.568 navios chegando ao porto do Rio, em 2010 esse número cresceu para 2.374 e, em 2011, alcançou 3.871. A grande maioria foi de embarcações de apoio às atividades de exploração e de produção de petróleo, seguido de porta-contêineres e de petroleiros.

Quem tiver a oportunidade de sobrevoar o Rio ou de cruzar a ponte Rio-Niterói assistirá uma cena impressionante. É quase uma centena de equipamentos, incluindo plataformas de petróleo, não só atracados no porto como no meio da baía. E como o congestionamento é grande, os moradores de Copacabana já se acostumaram a incorporar à sua vista vários navios de grande porte do lado de fora da baía aguardando para nela entrar.

Mas certamente o maior desafio de sustentabilidade relativo à BG está ligado ao controle da poluição de suas águas.

São 15 os municípios que a cercam, com uma população total de 11,3 milhões de habitantes, dos quais 8,5 milhões vivem em bacias hidrográficas cujos rios são contribuintes da BG e que, em grande parte, se transformaram em coletores de esgoto a céu aberto. Isso sem falar dos impactos relativos aos efluentes das indústrias locais.

A boa notícia é que deverão ser gastos, até os Jogos Olímpicos de 2016, cerca de R$ 2 bilhões em obras de esgotamento sanitário na região, dos quais cerca de R$ 1,13 bilhão através do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam), com recursos do Estado do Rio de Janeiro e de empréstimos contraídos com o BID.

Além disso, já foram aprovados no PAC R$ 570 milhões a serem aplicados em saneamento que, como no caso do Psam, serão destinados à construção e à complementação de redes de coleta de esgotos e de estações de tratamento.

É imperativo sanear a BG pelas consequências nocivas que sua poluição traz à saúde pública, à qualidade de vidas das pessoas que ali habitam e até mesmo pelas restrições à atividade econômica que causam o seu estado de degradação. Essa é, sem dúvida, uma condição prioritária para o desenvolvimento sustentável do Rio de Janeiro.

RODOLFO LANDIM, 55, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Kátia Abreu

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