Livro pouco ajuda a decifrar figura da empresária, que repudiou a edição

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

A bilionária gaúcha Lily Safra, 75, passou boa parte da vida despistando caçadores de celebridades e pondo advogados no encalço de jornalistas curiosos. Nesta semana, chegou às livrarias dos EUA o resultado da tentativa mais recente de furar sua rede de proteção.
Escrita por Isabel Vincent, repórter do "New York Post", "Gilded Lily" (Lily Dourada) é uma biografia para quem gosta de escândalos. Se esforça para ampliar a aura de mistério que envolve a bilionária e contribui pouco para decifrar sua personalidade.
Herdeira da rede Ponto Frio, cujo controle vendeu para o Pão de Açúcar no ano passado, e viúva do banqueiro Edmond Safra, Lily vive entre Nova York e Londres.
Sua fortuna é estimada em US$ 1,2 bilhão pela "Forbes".
O livro reacende uma controvérsia ao lançar dúvidas sobre as circunstâncias da morte do segundo marido de Lily, Alfredo Monteverde, fundador do Ponto Frio.
Monteverde foi encontrado morto em seu quarto em dezembro de 1969, horas após um almoço em que discutiu com Lily preparativos para o divórcio. Para a polícia, ele se matou com dois tiros no peito, mas sua família jamais aceitou essa versão.

APURAÇÃO
Vincent entrevistou a irmã de Monteverde, ouviu ex-empregados da família, reexaminou o trabalho dos legistas que fizeram a autópsia do corpo e identificou diversas falhas no trabalho da polícia.
A autora diz que um irmão de Lily que trabalhava no Ponto Frio foi a última pessoa a ver Monteverde vivo, mas não oferece indícios de que isso tenha algo a ver com a morte do empresário, que sofria de depressão. Lily estava no cabeleireiro quando o marido morreu.
O livro tampouco esclarece dúvidas sobre a morte de Safra, quarto marido de Lily.
Ele morreu em dezembro de 1999, trancado no banheiro de seu apartamento em Monte Carlo, sufocado pela fumaça de um incêndio causado pelo enfermeiro, Ted Maher.
Os guarda-costas de Safra, homem obcecado com sua segurança, foram dispensados horas antes. A polícia demorou três horas para controlar o fogo e prendeu o chefe da segurança do banqueiro quando ele apareceu para socorrer o patrão.
De fato, tudo muito esquisito. Mas Vincent não oferece nenhuma evidência de que Lily tenha feito qualquer coisa para se livrar dos maridos, como sugere o tempo inteiro.
Ainda assim, o livro oferece farto material para diversão ao fazer uma espécie de inventário de pessoas que foram à Justiça reclamar um pedaço da fortuna de Lily. "A intenção da autora de escrever uma novela fantástica em vez de uma biografia é evidente", disse à Folha, por e-mail, Seth Goldschlager, porta-voz da empresária. "A sra. Safra não leu o livro e não pretende fazê-lo."