São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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ANÁLISE/COMBUSTÍVEIS

Falta de investimentos põe em xeque o mercado de etanol

ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em julho, os senadores americanos firmaram acordo para eliminar o subsídio aos produtores de etanol de milho e as barreiras para a importação do biocombustível a partir de 31 de julho.
No acordo, o crédito tributário de US$ 0,45 por galão de etanol misturado à gasolina e a tarifa de US$ 0,54 por galão de etanol importado não seriam renovados.
Apesar de a iniciativa ser positiva para o Brasil, o país atualmente passa por uma crise no setor sucroalcooleiro, encontrando dificuldades para abastecer o mercado doméstico.
O setor de etanol, que vinha em franca expansão desde a introdução dos veículos flex em 2003, foi atingido fortemente pela crise de 2008.
No primeiro semestre de 2009, a falta de crédito forçou as empresas a escoarem grandes volumes de etanol, a baixos preços, para se capitalizarem, fazendo o consumo do biocombustível aumentar significativamente.
Apesar do aumento no consumo, o volume de investimentos em novas unidades produtoras, que era crescente, entrou em trajetória decrescente.
Na safra 2005/2006 entraram em operação nove novas unidades; em 2008/2009, auge dos investimentos, foram 30 novas usinas. Na safra 2009/2010, porém, esse número caiu para 19, com decréscimo de 36%. Para a safra 2011/2012, são esperadas apenas cinco unidades.
A moagem de cana cresceu, em média, 11,5% ao ano de 2000 a 2008. Após a crise, esse crescimento caiu para a média de 5% ao ano até 2010. Para a safra de 2011, é esperada diminuição na moagem.
Segundo a Unica, as estimativas para a safra 2011/12 apontam para a moagem de 533,5 milhões de toneladas, com redução de 4,8% ante o valor final da safra 2010/11, de 560,54 milhões.
A Unica apresenta como principais fatores para essa redução a menor renovação dos canaviais nos últimos anos e o período de estiagem entre abril e agosto de 2010.
A falta de investimentos em novas unidades, na expansão da área plantada e na renovação dos canaviais está restringindo a oferta.
A expectativa para a safra 2011/12 é que sejam produzidos 22,5 bilhões de litros, 11,2% menos que a safra anterior.
A disparidade entre oferta e demanda está gerando distorções no mercado. A cada ano, os preços estão se posicionando em patamares mais elevados e, ao contrário dos outros anos, em 2011 a usual redução de preços nos meses de março e abril, período de entrada da safra, só foi observada em maio.
O preço médio do hidratado em abril ficou em R$ 2,345 por litro, o maior em seis anos da série da ANP. Na média das três primeiras semanas de julho, o preço do hidratado voltou a subir, fechando em R$ 1,955, mesmo em plena safra e com estoques elevados.
Os baixos investimentos nos últimos anos, que demoram cerca de cinco anos para entrar em plena operação, e a persistência na manutenção artificial do preço da gasolina põem à prova o futuro do etanol.

ADRIANO PIRES é diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra Estrutura).


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