São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Alta no setor de alimentos vai continuar em 2011

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar da alta recente, os preços dos produtos agrícolas ainda não atingiram suas máximas, e devem subir mais em 2011.
Como noticiado na Folha em 6 de janeiro, o índice de preços de alimentos calculado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) superou em dezembro de 2010 o maior valor de sua série histórica.
O próprio coordenador da pesquisa afirma que "seria ingênuo imaginar ser este o novo pico da série", antecipando aumentos adicionais ao longo de 2011.
Expectativas como essa são altamente influenciadas por previsões de produção e consumo, como as realizadas pelo Departamento de Agricultura do governo norte-americano (USDA).
No caso de dois produtos fundamentais para a alimentação mundial, o trigo e o arroz, os valores das últimas estimativas (divulgadas em dezembro) parecem sustentar o prognóstico de continuidade de alta dos preços.
No caso do trigo, a produção estimada para o período 2009/10 é de 621,7 milhões de toneladas métricas (MT), enquanto a projetada para o período 2010/11 é de 586,4 milhões de toneladas, refletindo problemas climáticos em algumas das principais regiões produtoras.
Por sua vez, o consumo estimado e projetado entre esses dois períodos para o trigo irá aumentar -de 620,7 milhões de toneladas para 634,2 milhões de tonela- das-, acarretando redução dos estoques mundiais.
Como reflexo desses fundamentos de mercado, o preço do trigo teve elevações superiores a 40% no mercado internacional ao longo de 2010, e continua quebrando recordes históricos nos primeiros dias de 2011.

PÃO FRANCÊS
Entre os reflexos para o consumidor brasileiro, o derivado mais importante do trigo em termos de peso no orçamento do consumidor -o pão francês- teve um aumento de preço de 10,8% ao longo de 2010.
Já no caso do arroz, a situação é melhor do lado da oferta, cuja estimativa mundial é de aumento de 434,4 milhões para 445 milhões de toneladas entre 2009/10 e 2010/11.
Entretanto, espera-se ao mesmo tempo uma pequena redução nos estoques, pois o aumento projetado no consumo mundial para esse período é ainda superior ao crescimento da oferta.
Como resultado, os preços do arroz vêm subindo mais lentamente no mercado internacional, assim como no Brasil -a elevação dos preços no varejo ao longo de 2010 foi de 3,5%, bem abaixo da média do grupo alimentação como um todo.
Uma análise semelhante para outras das principais commodities agrícolas alimentares mostra que o pico da série de preços ainda deve ser atingido em 2011.
A partir daí pode-se esperar uma estabilização dos preços, mas não uma redução significativa.
Se for verdade que "o preço é o melhor fertilizante que existe", as apostas mais otimistas para o comportamento dos preços de alimentos ficam para o período 2011/12, dependendo das condições climáticas favoráveis.

PAULO PICCHETTI, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


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