São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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ANÁLISE

Governo recém-eleito da Hungria está fazendo política com sua dívida externa


DECLARAÇÕES DOS ÚLTIMOS DIAS PARECEM TER SIDO FEITAS PARA PROVOCAR A BAIXA DA MOEDA LOCAL E, ASSIM, ESTIMULAR AS VENDAS PARA O EXTERIOR

LANDON THOMAS JR.
DO "NEW YORK TIMES"

De acordo com os números, a Hungria não é a Grécia.
Seu deficit orçamentário equivale à metade do grego. O país não usa o euro e, portanto, poderia, se pressionado, elevar exportações por meio de uma desvalorização cambial. E está em meio a um plano de reforma econômica assistido pelo FMI, com direito a recorrer a uma linha de crédito de até US$ 2 bilhões em caso de necessidade.
Porém, isso não impediu que comentários provocados por motivos políticos feitos na semana passada por membros do governo húngaro causassem queda livre nas Bolsas mundiais, na sexta.
O motivo, possivelmente, é que o governo de centro-direita do premiê Viktor Orban, recentemente eleito, está -como muitos outros governos europeus- enfrentando a quase impossível tarefa de satisfazer a dois grupos de interesses muito distintos.
De um lado, os eleitores insatisfeitos, que não desejam novos cortes em seus salários e benefícios; de outro, a União Europeia, o FMI e os investidores no mercado de dívida pública, que insistem em medidas de austeridade ainda mais profundas como forma de reduzir a dívida.
Peter Szijjarto, porta-voz do novo premiê, declarou na sexta-feira que a economia húngara estava em situação "muito grave". Ele chegou a mencionar a possibilidade de uma moratória, alegando que especulação quanto a isso "não seria exagero".
Sob a condição de anonimato, funcionários do governo e executivos financeiros que estão assessorando as autoridades alegaram que a Hungria mantém o compromisso de reduzir o deficit, adotado no governo anterior.
E, embora admitissem que era possível que o deficit superasse sua meta para 2010, disseram que isso pode ter sido causado mais pelas diferenças sobre como contabilizar os números financeiros que por manobras de camuflagem em larga escala como as adotadas pela Grécia.
Mesmo assim, embora comparar Hungria e Grécia possa enervar os investidores internacionais, a comparação tem méritos na política interna. Por um lado, pode convencer uma população relutante a aceitar os cortes de gastos ainda mais severos que estão por vir; por outro, concede poder de negociação ao governo para impor cortes de impostos e outras medidas que combatam deficit e estimulem a expansão.
"Agora o objetivo primário é o crescimento", disse um funcionário do governo.
Na Hungria, uma economia pequena e aberta que tradicionalmente depende das exportações para promover crescimento, existe a impressão de que o governo teria invocado o espectro de um colapso econômico ao estilo grego a fim de provocar uma baixa do forinte (a moeda local) e assim tornar as exportações mais competitivas.
Mas 75% das exportações da Hungria se destinam à zona do euro, que está em desaceleração e cujos dirigentes parecem mais interessados em promover uma queda do euro a fim de estimular as exportações regionais. Com isso, é improvável que a Hungria consiga uma aceleração acentuada nas exportações.


Tradução de PAULO MIGLIACCI.


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