São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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ANÁLISE

Juros e crise da Europa podem afetar recuperação do setor

CLAUDIO AMITRANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O IBGE divulgou os dados de abril sobre o emprego industrial. As notícias são bastante animadoras, pois, com crescimento de 0,4% ante o mês anterior e de 3,3% sobre abril de 2009, o emprego na indústria vem se recuperando e está a só três pontos percentuais do pico de setembro de 2008, mês de eclosão da crise internacional.
Contudo, as informações não são surpreendentes, pois, embora tenha demorado a reagir à crise com cerca de seis meses de atraso "vis-à-vis" à produção, devido à piora das expectativas, a ocupação cresce desde julho.
Os resultados são consoantes com os dados do PIB, que revelaram não só a expansão da economia no agregado mas que o setor que mais cresceu no primeiro trimestre ante igual período de 2009 foi a indústria, com impressionantes 17,2%.
Dois fatos chamam a atenção sobre esses dados. O primeiro é que a ocupação cresceu, não só nos setores de bens-salário mas nos ramos de máquinas e equipamentos, refletindo a forte expansão do investimento, de 26% no primeiro trimestre ante igual período de 2009.
O segundo é que o ritmo de alta do emprego foi maior no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste do que na média, o que deve ter impactos distributivos sobre a economia.
Mas o que devemos esperar do emprego industrial em 2010? Seguramente, um bom desempenho, acompanhando a trajetória da produção.
Mas é preciso olhar com atenção para as expectativas dos empresários, pois as recentes elevações dos juros e os desdobramentos da crise na Europa podem abalar o "animal spirits" empresarial, o otimismo e o estado de confiança que fazem com sejam tomadas as decisões de investir e de contratar.
Se isso ocorrer, a recuperação do emprego e da produção industrial pode ficar comprometida, se não neste ano, certamente em 2011.


CLAUDIO AMITRANO é técnico do Ipea, doutorando em economia pela Unicamp e pesquisador associado do Cebrap.


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