São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011 |
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ANÁLISE É preciso entender a China e ser bem entendido por ela MARCOS CARAMURU JOEL SAMPAIO ESPECIAL PARA A FOLHA O estreitamento do diálogo político entre o Brasil e a China, ao longo da década passada, foi acompanhado por um expressivo aumento nas trocas comerciais e, mais recentemente, por movimentos significativos em relação aos investimentos. A visita da presidente Dilma Rousseff , nesse contexto de rápidas transformações, obteve resultados, entre outras áreas, na busca de uma maior qualidade na pauta exportadora brasileira, no estabelecimento de novas parcerias e na atração de investimentos em áreas de alto conteúdo tecnológico. Mas, se a agenda entre os governos se amplia e vai bem, com o reforço do diálogo em foros como os Brics e o G20 e no debate sobre a mudança do clima, há ainda muito a fazer na promoção do conhecimento recíproco. Essa tarefa transcende a atuação governamental e depende do engajamento das sociedades, incluindo os agentes econômicos, as entidades de classe, as universidades e a academia, a mídia e os órgãos de difusão cultural e de idiomas, entre outros. O objetivo, tendo presentes a distância geográfica e barreiras do idioma e da cultura, é despertar o interesse de grande número de brasileiros pelo assunto China e, a partir daí, desenvolver vocações dos muitos profissionais que serão necessários para dar musculatura à relação bilateral nos próximos anos. Uma das chaves é aumentar a oferta de ensino e a promoção de intercâmbio de estudantes. Os resultados podem começar a ser colhidos em cinco ou dez anos e tornariam possível contar, no médio prazo, com uma quantidade de especialistas e jovens profissionais compatível com a importância da relação. Na China, o assunto Brasil está na ordem do dia, e esse trabalho já começou. No âmbito econômico-comercial, o desafio do conhecimento é crucial. Sem esse conhecimento, que somente pode ser obtido mediante o investimento em recursos humanos qualificados e, em alguns casos, mediante presença física no país, não é possível fazer uma avaliação correta do que representa a China, tanto em termos de risco, como competidor voraz e poderoso, como também em matéria de oportunidades de parcerias e de financiamento. É sempre mais simples alimentar a imagem de um mero fornecedor de mercadorias baratas e de quinquilharias para as lojas de produtos com preço único de R$ 1,99 espalhadas pelas cidades brasileiras. Mas a China é muito mais do que isso. Bem o sabem várias empresas brasileiras de porte que mantêm escritórios de compra em cidades como Xangai. O contato direto com a realidade chinesa desperta qualquer um para a velocidade das transformações e condena à insignificância estereótipos e visões reducionistas ainda muito comuns. A despeito dos enormes desafios sociais que tem pela frente, a China é uma potência econômica que veio para ficar, uma fonte crescentemente relevante de produtos de conteúdo tecnológico e também de geração de conhecimento. Além disso, o impressionante processo chinês de urbanização oferece múltiplas oportunidades de negócios para quem se disponha a investir em decifrar o país. A outra dimensão do desafio é aumentar a visibilidade do Brasil. Fazer a China compreender que também temos demandas sociais e econômicas relevantes, ao mesmo tempo em que somos uma sociedade moderna, empreendedora, detentora de grande potencial e de um capital de conhecimento e sofisticação visível não só em nossa agricultura, mineração e energia mas também em muitos segmentos do nosso setor industrial. Para vencer, e talvez até para sobreviver, é preciso entender a China e ser bem entendido por ela. MARCOS CARAMURU, diplomata, é o cônsul-geral do Brasil em Xangai; JOEL SAMPAIO, diplomata, é o cônsul-geral-adjunto do Brasil em Xangai. Texto Anterior: Presença na área financeira também é tímida Próximo Texto: Brasil Foods está disposta a vender 15% da produção Índice | Comunicar Erros |
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