São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Fed tem dificuldades para enfrentar a crise

Após fracassar ao não prever o calote das hipotecas, BC dos EUA não consegue se antecipar a problemas atuais


AS ESCOLHAS QUE O FED TERÁ DE ENFRENTAR ESTÃO SE TORNANDO MAIS E MAIS DIFÍCEIS, À MEDIDA QUE A ECONOMIA PARECE SE DESACELERAR


SEWELL CHAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Passados seis meses do início de seu segundo mandato como presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke está enfrentando dificuldades para se antecipar aos problemas.
Sob sua direção, o banco central mudou de curso na terça-feira, deixando de lado as menções a um possível aperto do crédito e tomando medidas, ainda que simbólicas, para ajudar a hesitante recuperação econômica.
No entanto, na quarta-feira o Índice Industrial médio Dow Jones caiu quase 2,5%, porque os investidores parecem ter prestado mais atenção às sombrias projeções do Fed do que à sua disposição em tomar novas medidas.
Tendo fracassado em prever a crise do crédito hipotecário de risco ("subprime") e o caos econômico resultante, em 2007, Bernanke está ansioso por não parecer lento ou complacente agora que a recuperação demonstra sinais de estagnação.
No entanto, as opções do Fed são mais limitadas hoje do que há três anos, e as consequências de agir (ou não agir) são potencialmente mais perigosas.
"Os desafios que o Fed enfrenta não se tornarão mais fáceis, nos próximos meses", diz Carl Walsh, professor de Economia na Universidade da Califórnia em Santa Cruz.
"As escolhas que a instituição terá de enfrentar estão se tornando mais e mais difíceis, à medida que a economia parece se desacelerar."
Ao concordar em aceitar proventos da vasta carteira de títulos hipotecários do Fed para adquirir títulos do Tesouro com vencimento em longo prazo, o Comitê Federal de Open Market surpreendeu alguns economistas, que antecipavam que os principais dirigentes do banco central esperariam até sua reunião de setembro antes de tomar essa decisão.
E ela também foi aceitável para os adeptos da linha dura com relação à inflação, porque significa que o Fed deterá menos títulos hipotecários e mais títulos do Tesouro, que constituem a porção tradicionalmente dominante de sua carteira. O que acontecerá a seguir pode ser bem menos palatável. Utilizando seu poder de criar dinheiro, o banco central adquiriu US$ 1,25 trilhão em títulos lastreados por hipotecas, US$ 175 bilhões em dívidas de empresas controladas pelo governo e US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro, entre janeiro de 2009 e março de 2010.

TÁTICA NOVA
A estratégia de adquirir ativos financeiros a fim de ampliar a base monetária e estimular o crescimento econômico é o que os economistas definem como relaxamento quantitativo, porque tende a afrouxar o crédito.
Trata-se de tática nova para o Fed e, nos próximos meses, Bernanke, que esperava não precisar mais recorrer a compras de ativos, terá de decidir se uma nova rodada de aquisições é justificada. O professor Walsh aponta que os economistas "não dispõem de bom número de episódios históricos em economias modernas para determinar exatamente quais são os efeitos de um relaxamento quantitativo".
Bernanke, um estudioso da Depressão, vem argumentando há muito que o banco central dispõe de ferramentas adicionais para impedir uma deflação, mesmo depois de reduzir as taxas de juros de curto prazo a zero.
Mas há observadores que consideram pouco apropriado o uso dessas ferramentas. "O que está retendo o crescimento da economia hoje nada tem a ver com a política macroeconômica convencional", disse William Poole, ex-presidente do Federal Reserve Bank de St. Louis. "É uma consequência da enorme incerteza existente sobre o regime regulatório -uma situação sem precedentes posteriores aos anos 1930." No entanto, enquanto alguns observadores temem Bernanke por sua audácia excessiva, outros consideram que ele vem agindo de maneira muito tímida.
"Creio que o Fed esteja fora de sincronia em termos intelectuais", diz Albert Wojnilower, economista que trabalhou no Fed de Nova York de 1951 a 1962. "Exceto quando a crise estava em seu auge, o Fed vem se preocupando demais com a inflação futura, e essa claramente é a preocupação errada."

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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