São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Juro alto mantém atração pela entrada da moeda americana

CARLOS THADEU DE FREITAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última reunião do Comitê de Política Monetária, o Banco Central optou por interromper a alta da Selic (taxa básica de juros), uma vez que a inflação está sob controle no momento e permanecem as incertezas nas economias avançadas.
Mas, apesar das perspectivas de redução da atividade econômica nos países desenvolvidos, a expectativa de que a inflação no Brasil levará mais tempo até convergir para a meta do BC pode significar novos aumentos nas taxas de juros, nos próximos anos, caso os gastos do governo continuem crescendo.
E taxas de juros maiores tendem a atrair mais investimentos estrangeiros para renda fixa, provocando entrada de mais dólares. Considerando esse cenário, torna-se difícil esperar o enfraquecimento do real.
Estruturalmente, há uma tendência de valorização da moeda brasileira que se deve à redução substancial dos riscos incidentes sobre nossa economia, após a adoção de políticas macroeconômicas consistentes.
Compras de dólares no mercado à vista aumentam as reservas internacionais, as quais, embora tenham tido papel fundamental na redução do risco soberano do país, embutem um custo fiscal elevado.
Ao comprar dólares, o BC injeta, no mercado, moeda que tem de ser custeada via emissão de títulos públicos com rendimentos muito superiores (taxa Selic) à remuneração das reservas internacionais, atualmente bem próxima de zero.
Não obstante, a intervenção no mercado futuro de dólar por meio de "swaps" cambiais reversos, apesar de oferecerem alívio no curtíssimo prazo, demonstram-se inócuos para conter a valorização do câmbio num cenário de manutenção ou mesmo elevação da taxa Selic.
Os "swaps" cambiais reversos equivalem à compra de dólar no mercado futuro.
Assim sendo, a intervenção do Banco Central, seja no mercado cambial à vista ou futuro, é ineficiente dada a tendência de apreciação do real no longo prazo, apesar do possível benefício da redução da volatilidade.
Por outro lado, as vendas do varejo e a importação de bens de capital beneficiam-se do real valorizado. O caminho para um dólar menos barato reside na elevação da poupança interna via aperto fiscal e queda dos juros.


CARLOS THADEU DE FREITAS é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC.


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