São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010

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União pressiona por óleo mais valorizado

Há divergência com a Petrobras na avaliação do valor das reservas que o governo usará na capitalização

Governo quer valor alto para ter mais ações; estatal prefere preço menor para atrair o investidor minoritário

VALDO CRUZ
SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA

O governo pressiona a Petrobras a aceitar um preço mais alto na avaliação do valor dos barris de petróleo que a União irá usar no processo de capitalização da estatal.
Segundo relato à Folha de um assessor com acesso às negociações, há uma "diferença entre as propostas", e a Petrobras está fazendo um "esforço para jogar o preço para o mais baixo possível".
Esse assessor disse, porém, que a Petrobras terá de rever sua posição e já começou a se convencer disso na última quinta, quando houve uma reunião entre o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, e os ministros Erenice Guerra (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda).
Nessa reunião, Petrobras e ANP (Agência Nacional do Petróleo) apresentaram, pela primeira vez, dados preliminares dos laudos de avaliação do valor dos 5 bilhões de barris de petróleo que a União cederá à estatal como sua parte na capitalização.
Os valores são mantidos sob sigilo, mas o assessor confirmou que as duas avaliações são divergentes, apesar de Mantega ter dito ontem, no Rio, que não há "discrepâncias" entre elas.
Segundo o ministro, a avaliação das reservas levará em conta só critérios técnicos.
"Não se trata de um jogo, quem vai ganhar, quem vai perder, vou puxar um pouco para a União, vou puxar um pouco para a Petrobras. Estou nos dois lados, não posso puxar para nenhum lado.
Tem que ser absolutamente justo e tem que ser aquilo que as análises técnicas definirem", disse ele, que é presidente do conselho de administração da estatal.

AVALIAÇÕES
Dados divulgados informalmente apontam que, na avaliação contratada pela ANP, teria ficado acima de US$ 10 o valor do barril. A da Petrobras teria ficado mais perto de US$ 6.
Reservadamente, o presidente Lula já disse não aceitar um valor entre US$ 5 e US$ 6, faixa que foi especulada por analistas como o melhor cenário -porque daria maior poder aos acionistas minoritários para aderirem ao processo de capitalização.
O governo gostaria que o valor ficasse mais próximo de US$ 10 para não só manter sua participação no capital da empresa -hoje de 32%- como aumentá-la. Quanto maior a avaliação, mais ações o governo adquirirá.
Para a Petrobras, quanto menor o preço, maior a atratividade para os minoritários, fazendo com que ela capte mais recursos no mercado. Afinal, os barris da União não representam dinheiro imediato no caixa.
Segundo apurou a Folha, o governo estabeleceu que as negociações devem ser feitas dentro de uma faixa entre US$ 7 e US$ 10 o barril.


Colaborou CIRILO JUNIOR, do Rio


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