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Avanço alemão passa por Estado e indústria
Exportações, saúde fiscal e investimentos estatais explicam crescimento maior da principal economia da UE
Para manter trajetória de alta, país conta com crescimento das vendas externas e aumento
do consumo interno
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Desde seus primeiros esboços, na metade do século
passado, a União Europeia é
alvo de críticos que dizem ser
impossível o funcionamento
de um bloco com tão grandes
diferenças políticas, econômicas, culturais e sociais.
Agora, quando o continente tenta sair de uma das piores crises econômicas de sua
história, essas diferenças ficam mais marcantes.
A Alemanha, maior economia do bloco de 27 países, é o
grande destaque.
Na comparação com Espanha, França, Grécia, Irlanda,
Itália, Portugal e Reino Unido, é o país que apresenta o
maior crescimento e a menor
taxa de desemprego.
Enquanto todos, com exceção da Irlanda, importam
mais que exportam, a Alemanha tem superavit comercial
de 60 bilhões (veja quadro
ao lado). O país tem uma das
menores taxas de inflação,
1,2% ao ano. Na Grécia, o índice chega a 5,5%.
Qual o segredo alemão?
Especialistas apontam para
três fatores: forte e certeiro
investimento do governo para manter a economia funcionando no auge da crise; modelo industrial que privilegia
a exportação e conseguiu se
beneficiar da desvalorização
do euro; melhor saúde fiscal,
com dívida e deficit menores
que os registrados nos seus
vizinhos.
Ao investir na economia, o
governo Angela Merkel usou
480 bilhões para salvar os
bancos e outros 115 bilhões
para financiar empresas em
dificuldades.
Contratou ainda centenas
de obras públicas, que iam
de construção e reforma de
escolas a asfaltamento de
ruas e estradas. Conseguiu,
assim, manter muitas empresas funcionando e reduzir o
corte de empregados.
Ainda no campo do emprego, ampliou um programa que permite às empresas
reduzir as horas trabalhadas
dos funcionários e seus salários, que, em parte, são complementados pelo Estado.
A taxa de desemprego (7%
em junho) é menor que a do
início de 2008 -quando a
maior economia do bloco
passou a acumular quatro
trimestres de contração.
O resultado foi a manutenção da confiança e do poder
de compra dos cidadãos.
Houve ainda incentivos diretos ao consumo, quando,
por exemplo, ofereceu
2.500 em troca de carros velhos para que as pessoas
comprassem veículos novos.
Com tudo isso, as indústrias alemãs estavam menos
sucateadas quando o mundo
esboçou uma melhora global
e voltou às compras.
A desvalorização do euro
ante o dólar só aumentou a
competitividade dos produtos "made in Germany".
Agora, o governo acha que
é hora de parar de gastar e já
anunciou cortes para conter
o deficit público.
Aposta que a economia vai
andar com as próprias pernas, tanto que o banco central alemão elevou nesta semana a previsão para o crescimento anual do país, de
1,9% para 3%.
Mas, para manter a trajetória de alta, o país terá que
contar com dois fatores: que
as exportações continuem
crescendo (o que está ameaçado pela desaceleração dos
EUA e da China) e que o consumo interno aumente.
Além, é claro, de torcer para que os demais países da
UE encontrem logo uma saída para suas próprias crises.
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