São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010

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Avanço alemão passa por Estado e indústria

Exportações, saúde fiscal e investimentos estatais explicam crescimento maior da principal economia da UE

Para manter trajetória de alta, país conta com crescimento das vendas externas e aumento do consumo interno

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Desde seus primeiros esboços, na metade do século passado, a União Europeia é alvo de críticos que dizem ser impossível o funcionamento de um bloco com tão grandes diferenças políticas, econômicas, culturais e sociais.
Agora, quando o continente tenta sair de uma das piores crises econômicas de sua história, essas diferenças ficam mais marcantes.
A Alemanha, maior economia do bloco de 27 países, é o grande destaque.
Na comparação com Espanha, França, Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Reino Unido, é o país que apresenta o maior crescimento e a menor taxa de desemprego.
Enquanto todos, com exceção da Irlanda, importam mais que exportam, a Alemanha tem superavit comercial de 60 bilhões (veja quadro ao lado). O país tem uma das menores taxas de inflação, 1,2% ao ano. Na Grécia, o índice chega a 5,5%.
Qual o segredo alemão? Especialistas apontam para três fatores: forte e certeiro investimento do governo para manter a economia funcionando no auge da crise; modelo industrial que privilegia a exportação e conseguiu se beneficiar da desvalorização do euro; melhor saúde fiscal, com dívida e deficit menores que os registrados nos seus vizinhos.
Ao investir na economia, o governo Angela Merkel usou 480 bilhões para salvar os bancos e outros 115 bilhões para financiar empresas em dificuldades.
Contratou ainda centenas de obras públicas, que iam de construção e reforma de escolas a asfaltamento de ruas e estradas. Conseguiu, assim, manter muitas empresas funcionando e reduzir o corte de empregados.
Ainda no campo do emprego, ampliou um programa que permite às empresas reduzir as horas trabalhadas dos funcionários e seus salários, que, em parte, são complementados pelo Estado.
A taxa de desemprego (7% em junho) é menor que a do início de 2008 -quando a maior economia do bloco passou a acumular quatro trimestres de contração.
O resultado foi a manutenção da confiança e do poder de compra dos cidadãos.
Houve ainda incentivos diretos ao consumo, quando, por exemplo, ofereceu 2.500 em troca de carros velhos para que as pessoas comprassem veículos novos.
Com tudo isso, as indústrias alemãs estavam menos sucateadas quando o mundo esboçou uma melhora global e voltou às compras.
A desvalorização do euro ante o dólar só aumentou a competitividade dos produtos "made in Germany".
Agora, o governo acha que é hora de parar de gastar e já anunciou cortes para conter o deficit público.
Aposta que a economia vai andar com as próprias pernas, tanto que o banco central alemão elevou nesta semana a previsão para o crescimento anual do país, de 1,9% para 3%.
Mas, para manter a trajetória de alta, o país terá que contar com dois fatores: que as exportações continuem crescendo (o que está ameaçado pela desaceleração dos EUA e da China) e que o consumo interno aumente.
Além, é claro, de torcer para que os demais países da UE encontrem logo uma saída para suas próprias crises.


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