São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Brasil é sucesso na parada de boatos


Há mais rumores de nova mexida no câmbio; Mantega e Meirelles viram assunto da mídia e na fofoca da finança

ONTEM FOI dia de boataria doméstica e internacional a respeito de intervenções brasileiras no câmbio.
Em primeiro lugar, devido a uma entrevista de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Em segundo, devido ao fato de que aqui no Brasil vazou do Banco Central o rumor de que estão na prancheta novas intervenções no câmbio, como, por exemplo, uma taxação extra do capital externo.
Terceiro, houve o rumor de que o Tesouro, via Fundo Soberano, começara a comprar dólares no mercado, liberado que foi neste mês para intervir no câmbio. Quarto, repercutiram pelo mundo as declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre "a guerra mundial das moedas" (Mantega falou a respeito do assunto na segunda-feira).
Em Londres, Meirelles falou num tom surpreendente sobre câmbio, inusual para ele mesmo e para uma autoridade monetária. Disse que "não se pode permitir que as moedas de alguns países se enfraqueçam", que o "problema cambial é muito sério" e "precisa ser enfrentado". Um aumento da tributação de aplicações financeiras de não residentes seria uma "possibilidade".
No Brasil, um passarinho do Banco Central contou à gente do mercado e de jornais que "algo" será feito em relação à valorização do real. O mais estranho é que, de costume, quem vaza tal tipo de estimativa, digamos, é o pessoal da Fazenda. Mas o passarinho não esclareceu quem estaria aprontando novas medidas de intervenção no câmbio nem se o BC e a Fazenda estariam de acordo sobre as "medidas em estudo".
Pode-se tratar de um balão de ensaio do governo, a fim de testar a reação da praça a novas intervenções. Pode ser que alguém do BC tenha divulgado o rumor a fim de furar o balão de ensaio da Fazenda. No entanto, a contraditar essas hipóteses houve a entrevista forte de Meirelles em Londres.
Por fim, em seminário na Fiesp, segunda-feira, Mantega voltou a falar em "guerra cambial". Isto é, vários países procuram desvalorizar suas moedas a fim de evitar a "perda de competitividade" no mercado mundial, pois o dólar vem derretendo e, além disso, máquina comercial do mundo, a China mantém sua moeda artificialmente desvalorizada. Das 16 moedas mais importantes do mundo, o real é uma das duas que mais se valorizaram em relação ao dólar desde o início de 2009.
Mantega já havia dito coisas do gênero em meados do mês. Voltou a mencionar também a hipótese de baixar medidas a fim de conter a entrada de dólares, via aumento de imposto ou sabe-se lá por qual meio.
Ontem, porém, as declarações do ministro viraram manchete do "Financial Times" e pipocaram em vários relatórios, boletins e análises de instituições financeiras e consultorias. A capitalização da Petrobras ajudou a jogar ainda mais holofotes no mercado financeiro do Brasil.
O dólar ainda deve rolar a ladeira -se desvalorizar em relação à maioria das moedas relevantes do mundo, afora a chinesa. Os donos do dinheiro grosso pelo mundo acreditam que entre novembro próximo e janeiro de 2011 o BC norte-americano, o Fed, vai tentar baixar as taxas de juros de longo prazo, despejando mais dólares no mercado.
O assunto "intervenção cambial" ainda vai esquentar. Ainda mais se a eleição brasileira acabar logo no primeiro turno.

vinit@uol.com.br


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