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Capitalização da Petrobras ajudará contas do governo
Caixa do Tesouro engordará e superavit primário baterá um novo recorde
Com a operação, caixa do Tesouro terá mais
de R$ 30 bi para ajudar
no pagamento dos
juros da dívida pública
MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA
A operação de capitalização da Petrobras, que, como
a Folha demonstrou ontem,
irá engordar em mais de
R$ 30 bilhões o caixa do Tesouro, deve provocar resultado recorde neste mês no superavit primário (economia
para o pagamento dos juros
da dívida pública) do governo central -composto pelo
Tesouro, pelo Banco Central
e pela Previdência Social.
A previsão foi feita ontem
pelo secretário do Tesouro
Nacional, Arno Augustin. Ele
não citou explicitamente a
Petrobras, mas somente o ganho com a operação é quase
o dobro do antigo recorde, de
R$ 16,7 bilhões, obtido em
abril de 2008.
Na operação, o Tesouro
emite títulos da dívida pública ao BNDES, para o banco
participar da capitalização
da estatal petrolífera.
A Petrobras, capitalizada,
paga à União, no mesmo dia
da liquidação da operação, a
cessão onerosa de ativos
(barris de petróleo, estimado
em R$ 74 bilhões). Esse dinheiro, cujo valor ainda não
está definido, vai para o caixa do Tesouro. A diferença
entre a emissão e o que o Tesouro receber da estatal ajudará a melhorar o superavit
das contas públicas.
Segundo Augustin, que,
em suas palavras, não se referia exatamente à capitalização da Petrobras, mas a
uma "operação hipotética"
(em decorrência de restrições
impostas a comentários antes de concluída a operação),
não há impacto na dívida pública. "É imediatamente esterilizado", afirmou.
Também ontem, o governo
publicou um despacho do
ministro da Fazenda, Guido
Mantega, repassando R$ 24,7
bilhões em títulos do Tesouro
ao BNDES, que serão usados
para compensar a participação do banco na capitalização da Petrobras.
RESULTADO
No ano, até agosto, o governo central acumulou superavit primário de R$ 29,7
bilhões, abaixo da meta intermediária até o segundo
quadrimestre, de R$ 30 bilhões.
Esse valor, que já havia sido reduzido em R$ 10 bilhões, refere-se à meta cheia,
ou seja, sem os abatimentos
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O governo, que considera
a meta intermediária apenas
indicativa, tem a prerrogativa de abater os gastos do PAC
para cumprir a meta fiscal até
o fim do ano, hoje em R$ 75,8
bilhões. "Se o mercado crê
que não vamos conseguir
cumprir a meta, está errado.
Vamos cumprir sem o Projeto
Piloto de Investimentos e
sem o retorno do Fundo Soberano", disse Augustin.
Para o economista Felipe
Salto, da Tendências Consultoria, o retorno ao Tesouro da
operação da Petrobras significa, na prática, uma mudança nas regras.
"Há um artificialismo contábil. Não há uma melhora
fiscal do governo, que ainda
gasta acima do que deveria,
especialmente em custeio.
Dessa forma, a meta de superavit passa a não valer mais
para análise. Perde a credibilidade", afirmou.
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