São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Lugares de cobiça

Apesar das mazelas de metrópole, São Paulo e Rio ainda preservam "cantinhos acolhedores" . Conheça as escolhas de 20 arquitetos nas duas capitais

por RENATA VALDEJÃO

Mesmo com as inúmeras desvantagens inerentes às metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro ainda preservam locais que quase podem ser considerados oásis urbanos -charmosos e minimamente tranqüilos, ainda que convivam com o agito inevitável da cidade grande. Para descobrir onde estão esses cantinhos de sonho, nada melhor que perguntar aos arquitetos, gente que, por exigência profissional, está acostumada a pular de bairro em bairro e circular por todos os quadrantes das duas cidades.

Morar ouviu dez profissionais em cada capital. Em São Paulo, duas regiões empataram como celeiros dessas áreas: Jardins e Vila Nova Conceição. No Rio, o campeão de votos foi o Leblon. Confira as escolhas e as razões.

SÃO PAULO

Betty Birger
"Em São Paulo, morando em apartamento, é preciso ter vista. Há três lugares em que elas são imbatíveis. 1) Na rua Morás, na Vila Madalena, a vista é total e eterna, porque fica em área tombada. Você vê o pico do Jaraguá ao fundo, e o lugar é tranqüilo. Se quiser, todo o buxixo e os serviços da Vila Madalena estão logo atrás. 2) Na rua Curitiba, não há serviço, mas a vista dá para o parque Ibirapuera inteiro, em uma área totalmente tombada. 3) Nos Jardins, todas as travessas da Estados Unidos também estão em área tombada e têm vista para as árvores do Jardim Europa. Os prédios da Melo Alves, da Consolação, da Ministro Rocha Azevedo e da Padre João Manoel são ótimos."

Dado Castello Branco
"O Jardim Paulistano, próximo à praça Gastão Vidigal. Tem área verde, é calmo e, ao mesmo tempo, é central: dali é fácil chegar às avenidas Brasil e Faria Lima, por exemplo. Há muitas formas de entrar e sair. À noite, principalmente, é muito tranqüilo."

Luciano Imperatori
"O melhor lugar para morar em São Paulo é próximo à esquina da rua dos Escultores com a rua Pau Brasil, no Alto de Pinheiros. É uma verdadeira ilha de tranqüilidade, arborizada e calma em São Paulo."

Marcio Mazza
"O baixo Jardim Paulista é o bairro mais cobiçado, no pedacinho entre a Consolação, a Estados Unidos, a Peixoto Gomide e a alameda Jaú. É perto de tudo, chique, caro e de bom gosto. Não tinha livraria, agora tem (mas tem que ser do Isay); não tem cinema, que é para não atrair a 'plebe' de fora, mas está perto dos melhores; tem desde Pão de Açúcar a Café Armani, da Casa do Pão de Queijo ao Dom, do Alex Atala; do funcional ao glamour. É a Manhattan tupiniquim."

Marco Aurélio Viterbo
"O Jardim Europa, no trecho entre a Gabriel Monteiro da Silva e a Brigadeiro Luís Antônio. Quem quer morar em casa hoje, quer morar ali. É uma ilha verde, é muito bem-tratado e o acesso é ótimo. Você consegue cortar caminho para vários lugares, e ainda tem muita casa à venda."

Marcos Cohen
"É a região que engloba a Vila Nova Conceição e o Itaim Bibi, próximo ao shopping Iguatemi. É onde estão saindo, hoje, os prédios mais bonitos; há serviços, restaurantes, shoppings, tudo perto. E os apartamentos lançados têm de 600 metros quadrados para cima."

Maurício Queiroz
"A Vila Nova Conceição é o bairro mais charmoso e convidativo da cidade, por reunir algumas características essenciais. Ali é possível sair na rua para caminhar e fazer compras a pé, criando-se relações entre os moradores do bairro. Há lojas interessantes para serem visitadas e ótimos restaurantes. Outro atrativo é a proximidade com o parque Ibirapuera, um oásis dentro da cidade. Uma área muito gostosa dentro do bairro é a praça Pereira Coutinho e ruas adjacentes."

Patricia Anastassiadis
"Há um perfil de morador para cada região. São Paulo é formada por várias cidades dentro de uma. Cada uma tem um espírito diferente. Hoje eu diria que não existe uma bola da vez. O bairro mais cobiçado por mim é o de Higienópolis, principalmente ao redor da praça Vilaboim, que é uma área verde considerável e funciona como respiro. Além disso, Higienópolis conservou as características residenciais, não tem o comércio como foco. Dá uma sensação de vizinhança."

Paulo Lisboa
"Em várias pesquisas feitas com os paulistanos, muitos gostam ou gostariam de morar em casa. O melhor bairro para isso e que está sendo muito procurado é o City Boaçava, que fica quase de frente para o parque Villa Lobos. Principalmente o trecho entre as ruas Fonseca Rodrigues e Diógenes. Não é passagem para lugar nenhum, meio ilhado, não tem congestionamento e fica mais alto do que o parque. A vista dá para o parque e para a Cidade Universitária, dois locais extremamente arborizados. Está localizado entre o Alto de Pinheiros e o Alto da Lapa."

Satio Tomita
"Alphaville 0 e 1. É uma questão de segurança e de status. Tem grande área verde, e os condomínios têm estrutura de miniclubes. No Alphaville 0, todos querem morar porque está mais próximo à Castello Branco e à infra-estrutura (padarias etc.). No Alphaville 1, porque é o mais antigo, tem quase 30 anos, e há casas mais baratas do que nos outros."

RIO DE JANEIRO

Alba Pires
"A Urca, na quadra entre as praças Tenente Gil Guilherme e Raul Guedes. Motivos: 1) A vista é indescritível: baía de Guanabara, Cristo Redentor, aterro e o desenho da ponte Rio-Niterói ao fundo. 2) O bairro mantém o clima de interior e deve ficar assim por muito tempo (tomara que para sempre). Sua configuração, entre a montanha e a baía, a beneficia. Suas ruas são bem arborizadas e há sempre uma praça de respiro, que propicia o contato entre os moradores. Quando você caminha pela Urca, é impossível não sentir uma sensação imediata de tranqüilidade. Ao mesmo tempo, você está a poucos minutos do centro do Rio. 3) Existem várias casas antigas superinteressantes e bem localizadas que, se revitalizadas, seriam o sonho de qualquer carioca."

Aníbal Sabrosa
"A orla do Leblon, mais especificamente, o prédio Juan Le Pan, na esquina da av. Delfim Moreira com a rua Cupertino Durão. O Rio de Janeiro sempre privilegiou a orla, e o desenvolvimento urbano fez com que o uso dela fosse se estendendo para o sul: centro/Flamengo/Botafogo/Ipanema/Leblon/São Conrado/Barra da Tijuca. Sem dúvida, o lugar mais cobiçado já passou por essas praias, mas, nos dias de hoje, está aportado na praia do Leblon. Tem vista eterna para o mar e o conforto do bairro mais charmoso e tranqüilo do Rio."

Eduardo Horta
"O Baixo Leblon. O bairro ainda conserva uma certa boemia, um espírito do Rio antigo. É possível caminhar nas ruas, e é uma das poucas partes do Rio que não têm favela por perto, conseguiu se preservar de alguma maneira. Ao mesmo tempo, tem uma praia muito agradável. Um trecho bacana vai da Ataúlfo de Paiva até a Delfim Moreira (a quadra da praia)."

Fernanda Salles
"É o Leblon. Ruas transversais com trânsito moderado, bom comércio, imóveis de bom padrão, adensamento moderado, bons restaurantes, bom apelo cultural (perto de teatros, cinemas e galerias), bons colégios e localização entre o mar e a lagoa Rodrigo de Freitas. As ruas Carlos Góis, Rainha Guilhermina e José Linhares são bons trechos."

Flávia de Faria
"No Leblon, o trecho chamado Jardim Pernambuco, ao lado do Alto Leblon. Só tem casas, é reservado, é o local mais cobiçado pelos endinheirados. Fica nas imediações da rua do Canal (o trecho a partir dessa rua). Tem praia e, na rua Dias Ferreira, lojas, livrarias e restaurantes. Não é passagem para outros bairros e é muito gostoso caminhar por ali."

Ghislaine de Vicq
"O Alto da Gávea, próximo ao Jardim Botânico. Tem vista para a mata, muitos macacos e tucanos. Só se vê verde, e a temperatura é mais amena do que na parte de baixo da cidade; no inverno tem até neblina. Além de ser supertranqüilo."

Heitor Derbli
"O Leblon. É um bairro residencial, tem comércio agradável, praia, happy hour e os dois melhores cinemas da cidade, além de restaurantes. Há qualidade de vida. Dá para andar a pé. E como o Leblon não tem alvará para ter ruas transversais, o bairro fica mais residencial. O melhor trecho é a rua Carlos Góis."

Luiz Eduardo Índio da Costa
"O Baixo Leblon, ao redor da praça Antero de Quental. Sou suspeito para falar, porque há dez anos fiz o projeto Cidade Leblon, que revigorou o bairro. É um bairro de praia durante o dia e boêmio à noite, com muitos bares e restaurantes. Não é preciso passar por dentro do Leblon para ir a outros bairros, portanto, há menos engarrafamentos. É um bairro pequeno, com característica local. Dá para fazer tudo a pé."

Ricardo Macieira
"Meu cantinho é a Fonte da Saudade, um trechinho entre a Lagoa e a montanha. Todas as ruas são sem saída e terminam em uma rocha enorme e maravilhosa, onde há uma queda d'água, a Fonte da Saudade. É muito bucólico e silencioso, como no interior. Todo mundo se conhece. Há algumas casas remanescentes e prédios baixinhos. Engloba as ruas Epitácio Pessoa, Carvalho Azevedo, Sacopã e a rua Fonte da Saudade, uma das poucas do Rio com características de bulevar."

Sergio Rodrigues
"A minha opinião de neo-oitentão tende para algo que seja próximo de jornaleiro, grandes livrarias, bistrôs, lojas honestas e interessantes, calçadas largas e corretas e ponto de táxi. Andar alto com vista para o mar ou para a mata Atlântica, sem qualquer interferência de outro edifício, se possível num último pavimento com terraço, desde que o elevador chegue na porta. Resumindo, teríamos dois locais perfeitos: final do Leblon (Baixo Leblon) ou Leme, próximo às respectivas praias. Mas eu, pessoalmente, gostaria de uma cela de casal no mosteiro de São Bento, com muito sossego e a paisagem privilegiada da minha Cidade Maravilhosa."

Os números do mercado imobiliário confirmam as tendências que os arquitetos revelam à Morar. Em São Paulo, uma espécie de boom de investimentos tem ocorrido na Vila Nova Conceição, informa Fernando Damy Sita, diretor comercial do escritório da Coelho da Fonse-ca na região. Ali, os lançamentos se concentram nos imóveis de quatro dormitórios, hoje 60% da oferta. Um terreno na área custa, em média, de R$ 3.000 a R$ 4.000 o m2. Uma casa nova pode chegar a R$ 6.000 o m2, incluindo o terreno.

O valor dos apartamentos depende da localização: próximo à avenida Santo Amaro, região um tanto degradada, o m2 varia de R$ 1.000 (antigo) a R$ 3.000. Mas se o imóvel for vizinho do parque Ibirapuera, dispara para até R$ 10 mil. Nesse caso, o perfil é de um por andar, novo e com vista para o parque.

A região tem comportado novos lançamentos, como seu primeiro -e último- condomínio horizontal, lançado na primeira quinzena deste mês. "É a grande novidade do mercado na região, na rua Teviot. Foi lançado antes da nova lei de zoneamento, que dificultou esse tipo de empreendimento. Não havia e não haverá outro condomínio de casas por lá", afirma Sita. São quatro casas, de três andares, a R$ 6.600 o m2. Mas também é possível, diz ele, encontrar casas antigas a preço de terreno e reformar.

Nos Jardins, outra região mais votada, o mercado é impulsionado pelos serviços. "Muitos executivos de multinacionais, que vêm de fora e não querem comprar, alugam imóveis por lá. Há muita comodidade", acredita José Roberto Federighi, vice-presidente de locação do Secovi-SP. Leia-se lojas, restaurantes, cinema e cia. Os lançamentos do bairro englobam tudo, mas dão ênfase aos dois-dormitórios, cuja média de preço é de R$ 3.900 o m2.

Na orla do bairro carioca do Leblon, o m2 está batendo os R$ 8.000, segundo Pedro Fernandes, sócio da construtora Osborne Costa, especializada na região. No interior do bairro cai para R$ 6.000 o m2. Ao ler "interior", não pense em nada muito afastado da praia. O imóvel mais distante fica a quatro quadras. "O preço da orla é muito mais alto exclusivamente pela vista", explica.

Um apartamento bom e que dispensa muita reforma é um tesouro no Leblon, diz ele. "Quem quer comprar um imóvel grande a preço bom deve procurar na Barra, em São Conrado ou em Copacaba-na, onde vai encontrar excelentes opções por R$ 4.000 o m2", aconselha. No Leblon, a procura vai levar um "certo tempo". "Tenho uma cliente que vasculhou o bairro por mais de um ano."

Tudo isso porque o bairro é pequeno, cerca de dez quadras de comprimento e quatro de profundidade. Sua travessia dispensa o carro. "Dá para fazer boas compras, almoçar, tomar café, tudo a pé", enumera Fernandes. Os apartamentos, na maioria, enquadram-se no perfil de quatro quartos e 250 m2. Muitos estão em reforma.

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