São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Linha mestra

Durma com um barulho desses

por ROSANA FARIA DE FREITAS

Picada ou zumbido? Em matéria de pernilongo, a maioria costuma reclamar mais da cantoria irritante que da picadinha indolor, embora seja esta que coloca a saúde em risco. Pois prepare-se, a temporada dos concertos exasperantes está chegando

1. Quais as características do pernilongo?
Existem mais de 4.000 espécies no mundo, a maior parte em países de clima tropical. Seu ciclo biológico compreende alguns estágios em ambiente aquático (ovo, larva e pupa) e apenas um no meio terrestre, a fase adulta. A grande maioria se alimenta de sangue, hábito exclusivo das fêmeas, que necessitam do líquido para o desenvolvimento dos ovos. O macho vive, em média, oito ou nove dias, enquanto a fêmea dura um mês -pior para todos, já que ela é que pica.

2. O que é possível fazer para evitar?
Algumas providências que ajudam: deixar o lixo, especialmente o orgânico, sempre vedado e recolhê-lo todo fim do dia; manter portas e janelas fechadas após as 17h, quando os insetos costumam entrar em casa. Onde houver infestação -perto de rios, por exemplo-, vale a pena investir em telas.

3. Algum pernilongo oferece riscos à saúde?
Todos oferecem algum tipo de risco. O pernilongo comum, o Culex, incomoda, irrita e faz com que noites mal dormidas interfiram na qualidade de vida. Pode também transmitir moléstias como a elefantíase (inchaço das pernas, dos braços e dos órgãos sexuais). Outros transportam microorganismos causadores de malária, febre amarela e dengue. A doença que mais tem preocupado é a dengue, transmitida pelo Aedes aegypti. Importante: Culex, Aedes e Anopheles, responsável pela malária, podem transmitir a encefalite.

4. Usar inseticidas prejudica a saúde?
Qualquer substância química pode causar algum tipo de desconforto, irritação nos olhos ou na pele e alergias respiratórias. Tais sintomas, porém, estão relacionados à sensibilidade individual. A legislação brasileira é séria e não permite o registro de componentes nocivos. Assim, confira no rótulo se o produto foi devidamente liberado pelo Ministério da Saúde ("Registrado no M.S. sob o número ..."), assim como o endereço do fabricante, nome do responsável técnico e a descrição da composição. Na dúvida, consulte o médico para saber se você tem problema com os ativos mencionados.

5. O que é melhor para combater, pastilha ou aerossol?
Em relação à segurança, não existe diferença entre as formulações aerossol ou pastilha. No primeiro caso, o usuário deve aplicar em local fechado, esperar passar o efeito -mortal para o inseto- e arejar o ambiente antes de entrar. No segundo, o produto libera partículas com capacidade apenas para repelir o pernilongo, pois não há concentração de inseticida suficiente para matar.

6. Há soluções caseiras eficientes?
Existem alguns inseticidas naturais, como o óleo de citronela. Oriundo de vários tipos de plantas, é considerado um bom repelente, encontrado na forma de velas e óleo para tochas de jardim. Mas, para que tenha efeito, é necessária uma concentração mínima no ar e, como qualquer produto químico, pode provocar alergia nos mais sensíveis.

7. Que cuidados tomar ao usar inseticida?
A primeira recomendação é seguir as instruções do rótulo -a grande maioria não lê as indicações da embalagem, que traz informações importantes como a concentração necessária e o tempo em que o local deverá ficar fechado, sem circulação de pessoas e animais. Já as pastilhas devem ser utilizadas com as janelas abertas, para que os mosquitos saiam; só depois de algumas horas é possível fechá-las. Além disso, o aparelhinho tem que ficar a pelo menos dois metros de distância de camas ou locais de repouso.

8. Que fatores atraem os pernilongos?
Os pernilongos que sugam sangue humano são atraídos pelo dióxido de carbono (CO2) resultante da respiração e o ácido lático liberado pela pele, farejados por receptores capazes de detectar variações de 0,01% na quantidade de dióxido de carbono presente no ar. O que é moleza: enquanto a atmosfera normal oscila entre 0,3% e 0,4%, a respiração humana contém aproximadamente 4,5% de CO2. Uma vez atraído pelo cheiro, o mosquito leva em conta a temperatura e a umidade da epiderme para escolher a região da picada, percebendo a presença de roupas e repelentes.

9. Há outros fatores que atraem o inseto?
Sim. Alguns atraem mais pernilongo que outros, tanto pelas condições da pele (temperatura e umidade) quando por influência da dieta na composição do suor e, conseqüentemente, do odor. Pessoas que comem muito doce, por exemplo, podem desencadear uma elevação nos níveis de colesterol no sangue, o que representa um fator de atração.

10. É contra-indicado coçar a mordida? Sim. De uma maneira geral não se recomenda coçar o local da picada, pois este pode ser contaminado por microorganismos deixados pelo inseto. Exemplo: após sugar o sangue, o barbeiro, que provoca a doença de Chagas, defeca no local.

11. Qual a melhor forma de combater a coceira? E se a picada inflamar?
É sempre bom consultar um médico. Muitas pessoas conseguem reduzir o inchaço e a irritação esfregando a parte interna da casca da banana na região afetada. Pomadas antialérgicas também podem ajudar, sempre sob supervisão de profissional habilitado.

12. É verdade que parte do problema de proliferação de pernilongos se deve ao fato de haver poucos passarinhos nas cidades grandes?
Embora um passarinho coma até 150 pernilongos por dia, a taxa de proliferação dos insetos é muito maior do que efetivamente os pássaros poderiam dar conta. Isso sem contar que nem todos os pássaros são insetívoros, alguns comem apenas frutas. Assim, é mais importante cuidar dos fatores que afetam a procriação dos insetos, como adensamento urbano, desmatamento de florestas e, principalmente, a baixa qualidade ambiental de muitas regiões em termos de infra-estrutura e serviços de saneamento.

Lareira global
O aquecimento global deve aumentar a incidência desses bichos em latitude e longitude. Regiõs frias, que hoje não enfrentam o problema, podem vir a ter. Onde já estão presentes, caso do Bra-sil, já é possível perceber o aumento nos mosquitos e nos males decorrentes.

Uma projeção publicada na revista médica inglesa "The Lancet" prevê que, até 2085, cerca de 50% a 60% da população mundial viverão em áreas de alto risco de transmissão da dengue -em 1990, essa taxa era de 30%. Outro estudo, divulgado na revista francesa "Hydroéco-logie Appliquée", mostra que mosquitos antes restritos a regiões tropicais já chegaram ao país.

No Canadá, o aumento do ataque do besouro do pinheiro está comprometendo a floresta boreal, que representa quase 1/3 do total das áreas florestais do planeta. Para eliminar o tal inseto, seriam necessários poucos dias, durante o inverno, com temperaturas de 40ºC abaixo de zero, algo que não está ocorrendo por causa do aquecimento global.

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