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No leste do Congo, Exército absorve milícia e segue política de terror

MICHAEL DEIBERT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOMA (REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO)

À primeira vista, as coisas na província de Kivu Norte, na região leste da República Democrática do Congo, parecem muito mais calmas do que no passado recente.

Até 2008, um grupo rebelde, o CNDP (Congresso Nacional de Defesa do Povo), controlava grandes porções de território rico em minérios.

A ONU estima que 800 mil pessoas tenham sido forçadas a abandonar seus lares. Desde aquele período sombrio, muita coisa mudou.

Em janeiro de 2009, o governo de Ruanda, há muito visto como principal patrocinador do CNDP, mudou de estratégia e anunciou ter detido o líder do grupo.

O que restou da organização se tornou um partido político aliado ao governo, e seus combatentes foram integrados às Forças Armadas do Congo.

Mas nem tudo é o que parece. Em lugar de uma integração, o Exército congolês no leste do país passou a ser dominado pelo CNDP.

A ONG Human Rights Watch relatou que, em certas aldeias da região, os moradores foram forçados por antigos rebeldes a votar no presidente do Congo, Joseph Kabila, reeleito em meio a denúncias de fraude.

Depois de mais de uma década no poder, Kabila, que um dia contou com forte apoio no leste do país, pouco fez pelo desenvolvimento dessa região.

Um empresário de Goma que tem fortes contatos com o CNDP e o governo diz que "o Estado hoje tem presença simbólica em Kivu Norte".

Um dirigente de uma organização assistencial internacional que há muito opera na província se refere ao sistema de governo que está em operação como "parecido com uma máfia". "Quem não se alinhar [ao CNDP], discordar dele ou se pronunciar em oposição será intimidado e colocado em prisão domiciliar ou executado."

Em Kivu Norte, as coisas permanecem tensas, e a população civil da província continua em risco.

Ainda estão lá campos de refugiados como os de Kalinga (4.551 pessoas), Bihito (5.742) e Bukombo (3.338), onde se sobrevive sob as mais esquálidas condições.

Os moradores dizem que, ao ignorar deliberadamente a transformação de Kivu Norte em um virtual feudo do CNDP, a comunidade internacional prepara o terreno para a erupção de um possível conflito na província.

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