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Moisés Naím

Falando com Álvaro Uribe

Ex-presidente colombiano enfrenta duros ataques, mas deixou país em melhor estado do que o encontrou

Ontem entrevistei o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe. Minha primeira pergunta foi:

"Presidente, as autoridades prenderam seu ministro da Agricultura, seu secretário-geral da Presidência e seu diretor dos serviços de inteligência. Também estão sendo levados a juízo seu ministro do Interior e seu secretário de Imprensa. Isso só pode significar duas coisas: ou o sr. tem muito mau discernimento para selecionar seus colaboradores ou está ocorrendo um assédio judicial contra o sr. e sua equipe".

Ele me respondeu que não se podia generalizar e que cada caso precisaria ser discutido em separado.

Uribe está convencido de que seus colaboradores são servidores públicos valiosos que são inocentes das acusações que lhes são feitas (corrupção, grampeamento ilegal de telefones etc.).

Evitou falar de uma hipotética campanha contra ele, mas a implicação é óbvia: se tantos de seus colaboradores são acusados pela Justiça e o presidente crê que são inocentes, certamente acredita que algo estranho está se passando.

Os ataques a Uribe são comuns também na mídia, onde colunistas e comentaristas o denunciam feroz e constantemente. Isso é surpreendente, já que Uribe conquistou um dos mais altos índices de apoio popular do mundo.

E há boas razões para isso. Durante sua Presidência, o país teve uma transformação quase milagrosa. No final dos anos 1990, a Colômbia rivalizava com Afeganistão na lista dos Estados dominados pelo narcotráfico. Hoje está ao lado de Chile ou Brasil na dos países de maior êxito na América Latina.

Quando Uribe chegou ao poder, em 2002, as guerrilhas e as organizações paramilitares gozavam de poder imenso. Mais de 300 prefeituras estavam fechadas, havia quase 3.000 colombianos sequestrados, e transitar pelas principais rodovias do país era um perigo.

Uribe iniciou uma luta sem trégua contra os grupos armados. No fim de seu mandato, em 2010, o Estado tinha recuperado o controle, e as Farc estavam encurraladas.

A melhora na segurança contribuiu para a melhora econômica. A Colômbia está crescendo 5% ao ano, três pontos acima da média mundial. Em 2011, chegou a 6%.

Com isso, criaram-se quase 3 milhões de postos de trabalho, e o desemprego caiu de 22% para 12%. As exportações triplicaram, assim como os investimentos estrangeiros; a inflação caiu para 3,7%, e a pobreza recuou de 56% para 45%.

Isso não significa que a Colômbia esteja bem. A pobreza é enorme, e a desigualdade, intolerável. As Farc ainda contam com 8.000 homens, e novos bandos proliferaram.

Como o sr. explica esse paradoxo, presidente? "Quando tomei as decisões duras que precisavam ser tomadas, sabia que estava mexendo com interesses muito poderosos e que nunca me perdoariam por isso", ele respondeu. "E agora estou pagando as consequências."

Para seus milhões de simpatizantes, isso é óbvio. Para seus críticos, não passa de mais um truque para calá-los. O que não está em dúvida é que Uribe deixou seu país em melhor estado do que o encontrou.

@moisesnaim

Tradução de CLARA ALLAIN

AMANHÃ EM MUNDO
Paul Krugman

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