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Paul Krugman

Os assassinos do Medicare

A maior mentira de Paul Ryan é dizer que uma administração republicana protegerá o Medicare

O DISCURSO de Paul Ryan na noite de quarta-feira pode ter tido um resultado positivo: pode ter finalmente desfeito o mito de que ele é um conservador sério e honesto. A desonestidade descarada de Ryan deixou assombrados até mesmo seus críticos.

Algumas das mentiras que ele contou foram triviais porém reveladoras, como quando sugeriu que o presidente Barack Obama tenha sido responsável pelo fechamento de uma fábrica de automóveis, embora a fábrica tenha fechado antes de Obama assumir a Presidência.

Outras foram exasperadoras, como a declaração farisaica de que "o melhor critério para avaliar qualquer sociedade é o tratamento que dá aos que não podem se defender ou cuidar de si mesmos".

Isso vindo da boca de um homem que está propondo cortes selvagens ao Medicare que levariam dezenas de milhões de americanos a perder sua cobertura de saúde.

Mas a maior mentira de Ryan -sim, ela merece essa designação- foi a afirmação de que "uma administração Romney-Ryan protegerá e fortalecerá o Medicare". Na realidade, matará o programa.

O Partido Republicano já está engajado com a proposta de substituir o Medicare por algo que poderíamos chamar de Vouchercare.

Nesse esquema, o governo não mais pagaria as contas médicas principais; em vez disso, daria um voucher que poderia ser usado na compra de cobertura médica particular. Se o voucher fosse insuficiente para comprar cobertura decente, isso seria problema do cidadão.

Por que alguém acharia isso boa ideia? A plataforma do Partido Republicano diz que o plano vai "dar a milhões de pessoas da terceira idade o poder de controlar suas decisões pessoais sobre atendimento médico". Ah, é claro.

Mesmo assim, será que os convênios particulares não reduziriam os custos por meio da magia do mercado? Não.

Todas as evidências indicam que sistemas públicos, que têm menos burocracia do que seguradoras privadas e maior poder de barganha, são melhores que o setor privado para controlar custos.

Eu sei que esta afirmação contradiz o dogma dos livres mercados, mas é verdade, simplesmente.

Essa verdade pode ser constatada na história do Medicare Advantage, que opera por meio de planos médicos privados e tem custos sempre mais altos do que o Medicare tradicional. Pode ser constatada em comparações entre o Medicaid e convênios particulares: o Medicaid custa muito menos.

Com o tempo, o plano do Partido Republicano não apenas poria fim ao Medicare tal como o conhecemos, como mataria aquilo que o Medicare deve supostamente garantir: acesso universal ao atendimento médico essencial.

Os idosos que não tivessem meios de completar vouchers com muito dinheiro adicional seriam prejudicados, e seria azar deles.

A dúvida agora é se os eleitores vão entender o que está acontecendo realmente. Ryan e seu partido estão apostando que vão conseguir convencer os eleitores, fazendo de conta que são os verdadeiros defensores do Medicare, ao mesmo tempo em que trabalham para acabar com ele. Serão que vão conseguir?

Tradução de CLARA ALLAIN

AMANHÃ EM 'MUNDO'
Clóvis Rossi

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