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AMÉRICA DO SUL
Oposição a Evo Morales promete bloquear gasoduto se novo governo barrar exploração de jazida de ferro
Bolivianos ameaçam cortar gás para o Brasil
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PUERTO SUAREZ E
PUERTO QUIJARRO (BOLÍVIA)
Lideranças políticas contrárias
ao presidente eleito da Bolívia,
Evo Morales, ameaçam estourar
uma crise na fronteira com o Brasil, em Mato Grosso do Sul, se o
novo governo não permitir que a
iniciativa privada explore uma jazida de minério de ferro em Puerto Suarez, a 10 km de Corumbá
(MS). O negócio envolve uma siderúrgica brasileira em construção dentro da Bolívia.
Caso a exploração da jazida sofra veto de Morales em fevereiro,
políticos oposicionistas dizem
que vão promover manifestações
e protestos. O principal deles seria
a tomada da estação de compressão do gasoduto Bolívia-Brasil, na
fronteira, e o fechamento de válvulas, impedindo que os 24 milhões de m 3 que diariamente passam nos dutos cheguem ao território brasileiro.
Embora não sejam contrários à
exportação do gás, políticos locais
acham que a tomada da estação
chamará a atenção para o protesto, o qual deve incluir ainda o fechamento da fronteira para o tráfego de veículos.
A estratégia é relatada pelo secretário-geral da Prefeitura de
Puerto Suarez, Herman Leigue, e
pelo secretário de Obras, Roberto
Trigo. Eles disseram falar em nome do prefeito Romualdo Hurtado Rodriguez, eleito em janeiro
com mandato até 2009 pelo MIR
(Movimento da Esquerda Revolucionária).
"A gente não agüenta mais [a
falta de empregos]; e vamos tomar uma atitude radical", disse
Trigo.
Suspensão
A licitação para a exploração de
50% da jazida de Mutun -onde
estariam 40 bilhões de toneladas
de ferro- deveria ter ocorrido no
último dia 21, mas foi suspensa.
Morales disse que a decisão é do
governo atual.
Na terça-feira passada, em Santa Cruz de La Sierra, Morales se
reuniu com políticos de Puerto
Suarez e região. No encontro, "o
presidente eleito confirmou a licitação de Mutun. Disse que não vê
nenhum inconveniente [no negócio] e garantiu a segurança jurídica", afirmou o presidente da Câmara de Vereadores de Puerto
Suarez, Manuel Chassagnec. Ele
disse crer que a licitação ocorrerá
na segunda semana de fevereiro.
"Hoje ele [Morales] está fora.
No dia 22, estará dentro [do governo], e aí pode mudar. Se isso
acontecer, ele vai se dar mal", afirmou Trigo.
O negócio de Mutun interessa
ao grupo EBX, do empresário Eike Batista. A empresa constrói
desde julho passado uma siderúrgica em Puerto Quijarro, na fronteira com o Brasil, a menos de 15
km de Corumbá, onde tem uma
mina de minério de ferro. Foi
atraída à Bolívia pela isenção de
impostos da zona franca.
A EBX está investindo US$ 155
milhões, segundo o diretor de
operação Dalton Nosé. O minério
de ferro abastecerá os quatro fornos que devem começar a operar
em março. O objetivo é produzir
800 mil toneladas de ferro gusa
por ano.
O empresário boliviano Fernando Tuma Gamez, que há 25
anos investe em Puerto Quijarro,
afirma que a industrialização de
matéria-prima -como o minério
de ferro e gás natural- é a solução para acabar com o desemprego. Ele diz que, de 30 mil habitantes na região de fronteira, 20 mil
estão sem trabalho.
"Estão tirando o pão da boca de
nossos filhos. Há dez anos não havia miséria. Hoje há pessoas no lixão", afirma Leigue, o secretário-geral da prefeitura, referindo-se à
saída de matéria-prima não-industrializada. Para ele, a siderúrgica brasileira e a exploração do
minério de ferro em Mutun podem gerar empregos.
Lucros
Pelas regras da licitação, segundo Leigue, 20% dos lucros obtidos
com a exploração vão para os municípios. Na avaliação da Câmara
de Puerto Suarez, isso pode render US$ 6 milhões por ano aos
dois municípios.
Cinco empresas estrangeiras,
incluindo a EBX, devem disputar
o direito de explorar a jazida.
Segundo a empresa brasileira,
ao menos 320 empregos podem
ser gerados na operação da siderúrgica, além dos 550 já criados na
construção.
Entre os empregados estão carvoeiros bolivianos que ainda
aprendem a profissão. Ao menos
20 trabalham em 24 fornos construídos ao lado da siderúrgica. O
carvão, que começa a ser estocado, vai ser queimado nos fornos.
"Tivemos aula de um mês com
um brasileiro", afirmou Francisco
Hurtado Marques, 33, responsável pela queima da madeira. Ele
disse que ganha o equivalente a
R$ 300 por mês e trabalha há dois
meses no local.
"A empresa vai registrar todo
mundo a partir do dia 1º", afirmou o trabalhador boliviano.
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