São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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CHOQUE NA FRANÇA

Dia do Trabalho em Paris será marcado por manifestações favoráveis e contrárias ao extremista

Le Pen tenta exibir força com passeata hoje

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O candidato à Presidência da França Jean-Marie Le Pen (extrema direita) e seu partido, a Frente Nacional (FN), pretendem transformar a passeata que irão fazer em Paris hoje, Dia do Trabalho, numa demonstração de força eleitoral e estão tentando afastar do desfile os sinais de violência e radicalismo políticos. Eles esperam reunir até 100 mil pessoas.
Os opositores de Le Pen também concentram esforços num protesto para hoje, que deverá ser o maior já realizado no país nos últimos dias. Estão sendo aguardadas mais de 300 mil pessoas.
A passeata de Le Pen será pela manhã, a partir das 9h. O protesto antifascista será à tarde, a partir das 15h. A polícia definiu os horários e os trajetos de modo a evitar atritos entre os participantes.
Duas mobilizações, porém, acontecem em horários ou locais próximos do desfile da FN. Uma delas homenageará um marroquino morto por neonazistas que participavam de um desfile de Le Pen em 1995. A outra, a partir do meio-dia, irá reunir anarco-sindicalistas da CNT (Confederação Nacional do Trabalho).
A temperatura política de Paris estará bastante alta hoje. Por isso, a polícia está montando um meticuloso "plano de batalha" para conter eventuais conflitos de rua entre opositores e partidários do candidato da extrema direita, que chegou ao segundo turno das eleições com 16,8% dos votos.
"Nada seria pior [para Le Pen" do que um comportamento selvagem", disse o presidente Jacques Chirac, que disputa com Le Pen as eleições no próximo domingo e, segundo pesquisas, tem entre 75% e 80% das intenções de voto.
Cerca de 3.000 policiais controlarão as passeatas. Foi também ativado todo o aparato de segurança -como o sistema de vídeo (com 350 câmeras pela cidade), helicópteros, bombeiros e um sistema de informação online usado apenas na final da Copa de 98.
"O conselho aos policiais é bem claro: ser muito duro contra todo ato de violência. Nós temos um bom preparo e meios importantes e seremos muito vigilantes", disse o chefe de polícia de Paris, Jean-Paul Prost. Ele pediu aos manifestantes que, após as passeatas, se dispersem rapidamente a fim de "evitar a violência".
A segurança de Le Pen foi reforçada. A hipótese de atentado contra o candidato não foi descartada pelo governo. O premiê Lionel Jospin -socialista, derrotado por Le Pen no primeiro turno- pediu que a polícia garanta a sua proteção. "Eu tenho confiança na polícia. Creio que o Ministério do Interior tomará as disposições que convêm", disse Le Pen.
A passeata da FN, em homenagem a Joana d'Arc, sairá da praça do Chatêlet, perto do rio Sena, seguirá por uma das ruas paralelas ao Palais Royal e ao Louvre até a estátua da heroína medieval, ao lado do jardim das Tuilleries, e culminará na praça da Ópera, onde Le Pen fará um discurso. O trajeto, na margem direita do Sena, é todo ele marcado por locais da história da monarquia francesa.
Neste ano, a FN eliminou do desfile a Joana d'Arc a cavalo e os cavaleiros que a seguiam. Também não haverá o pódio de onde Le Pen assistia à passeata. Segundo o partido, ele vai marchar à frente da manifestação.
A FN está pedindo aos cortejos que vêm do interior que confirmem se as pessoas que embarcarem nos ônibus são de fato ligadas ao partido. Também vai pedir aos grupos ultra-radicais que evitem todo slogan extremista e respeitem as regras policiais. Grupos de neofascistas e neonazistas italianos, alemães e belgas devem engrossar a passeata.
O protesto contra Le Pen começará na praça da República, passará pela praça da Bastilha e terminará na praça da Nação -todas elas tradicionais espaços de manifestações em Paris. Praticamente todas as associações -políticas, sindicais, estudantis e artísticas- devem participar.



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